Álvaro Cunhal, um reformista sério e um honesto contra-revolucionário**

1344431049_425539746_1-Fotos-de--RADICALISMO-PEQUENO-BURGUeS-DE-FACHADA-SOCIALISTAEstamos no centenário do nascimento de Álvaro Cunhal, um dos mais importantes líderes do comunismo alinhado, pelo que não podia deixar que se esquecesse um dos seus maiores legados. Para declarar desde já as minhas suspeitas intenções, importa deixar claro que tudo o que me move contra Álvaro Cunhal é o amor ao comunismo. Não lhe reconheço grandes méritos ao passo que os defeitos saltam à vista. Já antes do 25 de Abril se dedicava a combater o esquerdismo, sendo que depois de derrubada a ditadura juntou essa tarefa à inglória de humanizar o capitalismo. Sempre que pressionado a esclarecer ao que vinha foi honesto. De resto, parece-me, é essa a sua grande virtude. Do “olhe que não” – (lembram-se qual era mesmo a acusação que o Soares lhe fazia?), até ao empenho a derrotar as greves que tentavam dar mais vida ao PREC, o Cunhal do período democrático é isso mesmo – um Álvaro Cunhal comprometido com a democracia parlamentar da burguesia. Para ele, mesmo quando a revolução tinha tudo para avançar, o tempo era de repetir, à exaustão, de que a hora não era a hora e que a ausência de condições objectivas se mantinha. A democracia operária, tão necessária, ia ter que continuar à espera de melhores dias.

“No papel é fácil escrever e ao microfone é fácil gritar: “chegou a hora do assalto final!” Para o assalto final, não basta escrever ou gritar. É preciso, além de condições objectivas, que exista uma força material, a força organizada, para se lançar ao assalto, ou seja, um exército político ligado às massas e as massas radicalizadas, dispostas e preparadas para a luta pelo poder, para a insurreição (…) Os radicais pequeno-burgueses são incapazes de compreender que os objectivos fundamentais da revolução não se alcançam reclamando-os, mas conquistando-os.” Álvaro Cunhal, «O Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista», 1970.

Mas não foi muito diferente antes do 25 de Abril. Na noite fascista, abraçou convictamente a delação, como foi vítima o intérprete da sua primeira cisão, o Francisco Martins Rodrigues, entregue à PIDE numa armadilha montada pelo seu PCP*. Mas há mais. Há as brigadas de desmoralização nas prisões, a subalternização das mulheres no trabalho revolucionário, a eterna ilusão de que a “guerra do Ultramar” se derrotava indo para a “guerra Colonial”, sabe-se lá fazer o quê.

“São verdades elementares do marxismo-leninismo que as tarefas da classe operária e da sua vanguarda devem ser definidas, em cada país, na base da análise da situação específica existente nesse país, das condições sociais e políticas, do grau e características do desenvolvimento do capitalismo, das relações de produção, dos conflitos, da correlação e da arrumação de forças das classes sociais. A repetição de formulas e a cópia mecânica de experiências conduzem necessariamente a uma incorrecta definição das tarefas do proletariado.” Álvaro Cunhal, «O Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista», 1970.

É bom que se lembre Cunhal como ele foi e não como se desejava que ele fosse. Um dirigente astuto, um esteta com significado, perspicaz e honesto, de tal modo que ao contrário de muito outros nunca escondeu o seu fervoroso combate ao esquerdismo – fosse lá ele qual fosse – e claro, a defesa, ainda que táctica, do reformismo contra-revolucionário de fachada socialista. É certo que a sua história não deve ser só contada pelos seus detractores, mas a alternativa não pode ser só contar a história que interessa ao PCP.

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Para me juntar à festa da sua memória, deixo um programa de rádio feito, também, em sua homenagem.

*Francisco Martins Rodrigues foi denunciado no Avante, num processo de delação que a PIDE aproveitou para lhe fazer o cerco e cuja intenção não era outra senão precisamente a que teve. 

** Esclarecedora autocrítica de Álvaro Cunhal e da Direcção do PCP, infelizmente ainda mais reveladora que o erro.

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108 respostas a Álvaro Cunhal, um reformista sério e um honesto contra-revolucionário**

  1. João. diz:

    A verdade é que os esquerdistas, as suas organizações, quase que se extinguiram e não há nada mais reccionário do que deixar partidos ditos de esquerda extinguirem-se por falta de representatividade entre o povo.

    Qualquer grupo de estúpidos pode pegar megafones paus e pedras e ir partir montras para a baixa.

  2. Nuno Rodrigues diz:

    Mais não seja, este post dá-lhe razão. É que passado tanto tempo ás criticas, os gajos como tu ainda não fizeram um chavelho. E quando fazem…É para abrir a boca contra ele. PS: As mulheres…subalternas? Por amor da santa.

  3. um anarco-ciclista diz:

    Bem… um texto absolutamente abjecto!

    Quase 40 anos de clandestinadade e exílio, 11 anos de prisão (vários dele em isolamento) não são um “mérito”?!?! Que desonestidade intelectual deprimente!!!

    QUAIS SÃO OS TEUS MÉRITOS, RENATO TEIXEIRA?
    escrever posts incendiários e provocatórios?!?

    “Abraçou convictamente a delação”?!?!
    Francisco Martins Rodrigues foi preso plas suas tácticas ultra-esquerdistas e por ter morto um PIDE infiltrado na sua (débil) organização. Delação por delação… Convém não esquecer que enquanto Cunhal resistiu à tortura, o avozinho da estrema-esquerda portuguesa” cedeu e denunciou os seus camaradas à PIDE… Triste, mas factual! Tão factual que no pós 25 de Abril FMR foi vetado, plos seus camaradas, de exercer cargos dirigentes, precisamente, plo mau porte na prisão!

    Se queres criticar Álvaro Cunhal, os seus métodos e estratégias, dá-te ao menos ao trabalho de escrever um texto com um mínimo de inteligência, veracidade e dignidade

  4. Vítor Dias diz:

    Este post do Renato não merece mais do que isto: pelo menos Álvaro Cunhal jamais escreveu. ao contrário do Renato, a «guerra do Ultramar».

    • Renato diz:

      Vítor Dias, o Álvaro Cunhal teria respondido com mais do que um retoque sintáctico.

      • Vítor Dias diz:

        Cunhal não teria respondido nada porque contra os Renatos daquele tempo já havia escrito o livro.
        “Sintáctico» – diz o Renato. Sintomático digo eu que, sem me comparar a Cunhal, nunca na vida descrevi a guerra colonial como « A GUERRA DO ULTRAMAR».

        • Renato diz:

          Ele conseguiu fundamentar, ainda que não se concorde, o seu reformismo contra-revolucionário. Outros preferem mitigar e jogar com as palavras sem acrescentar nada ao debate. E veja, já escreveu “A GUERRA DO ULTRAMAR” duas vezes. Ainda acaba a morder a língua.

          • Vítor Dias diz:

            Renato, não seja desonesto que os leitores não são parvos. O que eu escrevi foi que «nunca na vida descrevi a guerra colonial como « A GUERRA DO ULTRAMAR».
            E guerra colonial está sem aspas e «a guerra do Ultramar» está com aspas que é para me reportar a si.
            Alegue o que quiser, que é novo etc. e tal, mas não queira fazer disto um pormenor ou uma qualquer fuga a debate porque estou certo que muitos leitores não terão deixado que um crítico de Cunhal pela esquerda tenha sido capaz de usar o termo «guerra do Ultramar» (com aspas outra vez, para não haver dúvidas de que não tenho nenhuma língua para morder.

          • Renato diz:

            É, para não discutir Cunhal, e esta parte da sua obra, descobriu aqui um saudosista. Seriedade qb.

  5. Pingback: O Álvaro Cunhal | cinco dias

  6. Ricardo M Santos diz:

    É pá, Renato, espectacular! Sobe a escadaria, pá! És a vanguarda, meu Wando da blogosfera.

  7. O senhor que escreve isto sofre de memória selectiva pois não se lembra certamente das nacionalizações à bruta de empresas e do saneamento de jornalistas durante o controlo do Diário de Notícias pelo PCP. Qual Democracia burguesa, qual Democracia Esquerdista, qual Democracia Radical, qual quê! O PCP só não tomou de assalto todo o país porque sabia que não podia contar com o apoio dos restantes partidos comunistas europeus para implementar a sua ditadura do proletariado em Portugal! Quanto ao resto, os argumentos conspiratórios avançados neste post são típicos do esquerdismo português de quem se está nas tintas para a vontade da sociedade e do povo em geral – e que pensa em última análise que não interessa para nada conquistar o apoio popular pois o que conta é a força das armas…

    • Renato diz:

      “olhe que não, olhe que não”.

      • Nuno Rodrigues diz:

        Não aconteceu? É mentira?

      • Yep, lá porque o senhor o dizia, isso era automaticamente verdade… Cunhal era um político que só sabia pensar em termos maquiavélicos do tipo realpolitik. Se sabia que não existia apoio para cria um caso especial de comunismo à la Albânia aqui em Portugal com os partidos eurocomunistas aqui ao lado, era evidente que ele não se iria aventurar nesse caminho… Nesse aspecto, ele é o completo oposto de Gramsci na Itália e do seu conceito de Democracia Radical.

    • nightwishpt diz:

      “as nacionalizações à bruta de empresas e do saneamento de jornalistas”

      Se o tivessem feito à banca não estávamos onde estamos…

  8. proletkult diz:

    “Na noite fascista, abraçou convictamente a delação, como foi vítima o intérprete da sua primeira cisão, o Francisco Martins Rodrigues, entregue à PIDE numa armadilha montada pelo seu PCP.”

    Apesar de estar de acordo com o texto na generalidade, não queria deixar passar este equívoco que aqui tens.
    Francisco Martins Rodrigues foi preso não por causa da denúncia do PCP no Avante! mas devido a um processo de investigação da PIDE e da PJ relativo ao “crime de Belas”. Aliás, julgo mesmo que o nome de Martins Rodrigues nem sequer aparece nessa denúncia – que se dá algum tempo antes da prisão – porque ainda estava em França. Nesse artigo do Avante! estavam os nomes dos dois ou três primeiros activistas da FAP que vieram tentar montar a estrutura dessa organização em Portugal.

    Parece-me também um pouco precipitado acusar Álvaro Cunhal de delação, quer no geral, quer neste caso. Aqui falamos de uma denúncia feita pelos quadros do PC em Portugal, quando Cunhal estava já no exílio.

    • Renato diz:

      A delação no Avante tinha que intenção, que não aquela que precisamente teve?

      • proletkult diz:

        A intenção era a de entregar a FAP à PIDE, claro. Mas a questão não é essa. O caso de Martins Rodrigues e do “crime de Belas” não tem relação directa com a denúncia. Eles foram presos porque mataram um chibo (que já antes havia denunciado em relação ao PCP) e porque a FAP não tinha ainda um aparelho capaz de lhes garantir a cobertura necessária.

        • Renato diz:

          Eu não falei no crime de Belas. Falei que ele foi alvo de delação no Avante, que contribuiu para que a PIDE lhe fizesse o cerco.

          • um anarco-ciclismo diz:

            “Na noite fascista, [Álvaro Cunhal] abraçou convictamente a delação, como foi vítima o intérprete da sua primeira cisão, o Francisco Martins Rodrigues, entregue à PIDE numa armadilha montada pelo seu PCP.”

            ISTO FOI O QUE TU ESCREVESTE.

          • Renato diz:

            E é exactamente isso que significa denunciar um militante à PIDE. Ou como é que a PIDE liquidava organizações? Toda a ajuda serviu para combater o esquerdismo, e desse facto, só o PCP se deve envergonhar.

          • proletkult diz:

            “E é exactamente isso que significa denunciar um militante à PIDE.”

            Vou recapitular:

            Tenho quase a certeza de que o nome do Francisco Martins Rodrigues não estava nessa denúncia, até porque ele ainda estava em França, não tendo feito parte desse primeiro grupo que veio a Portugal montar o aparelho da FAP. E é esse grupo que é denunciado no Avante!. Isso foi algum tempo antes (dois anos, creio) da execução do chibo da PIDE. Há, por aí algures, uma entrevista com Martins Rodrigues em que ele diz que a FAP é destruída e os seus dirigentes presos devido insuficiências organizativas e conspirativas próprias, nunca relacionando isso com o PCP nem com a denúncia do Avante!.

            Além do mais, não me parece correcto acusar pessoalmente Álvaro Cunhal dessa denúncia. Já não estava em Portugal e o Secretariado (direcção do PCP no exílio) não tinha controlo prévio sobre o que saía no jornal, que era da responsabilidade da Comissão Executiva (direcção do PCP em Portugal). O maior exemplo disso mesmo é em 68, quando a CE vai emitir um comunicado a apoiar a intervenção Soviética na Checoslováquia, ao arrepio da opinião pessoal de Cunhal e do Secretariado.

      • José Gabriel diz:

        Não! Não se trata de deleção, mas de mera informação aos militantes do Partido que fulano de tal não é do Partido e tais actividades não haviam sido desenvolvidas pelo Partido. O PCP não ia deixar um exemplar do Avante! na caixa do correio daquele edifício da António Maria Cardoso. A ideia era precisamente que a PIDE não apanhasse os exemplares.

        • Argala diz:

          A má-fé deste comentário é de puxar o vómito.

        • proletkult diz:

          É claro que há denúncia e propositada. O PCP tinha várias formas de avisar os seus militantes sobre estas e outras situações. A começar pelas reuniões e encontros, coisa que terá sido feita dezenas de vezes. Era assim, por exemplo, que passavam as mensagens sobre se este ou aquele camarada tinham sido presos. Como é natural nunca publicavam isso no jornal. E como é também natural, o PCP sabia muito bem que a PIDE ia ler aquilo. O arquivo da PIDE/DGS tinha praticamente todos os números do Avante! de cerca de 5 décadas (assim como de quase toda a imprensa do PCP), e nem o objectivo do PCP era não deixar a PIDE ler o jornal, mas não ter acesso às tipografias e aos canais de distribuição. Caso contrário não assinavam as peças com pseudónimos.

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  10. Nuno Cardoso da Silva diz:

    O problema dos comunistas é o comunismo… O comunismo é uma religião tão messiânica como o cristianismo. Enquanto obriga o povo a passar dificuldades em nome do materialismo histórico, da colectivização dos meios de produção (colectivização, não socialização!), do privilégio vanguardista do “partido”, e da ditadura do proletariado, o comunismo promete o paraíso, lá para as calendas gregas, num estádio nunca alcançado e nunca alcançável da sociedade “socialista”… Tal como o cristianismo pede paciência aos crentes porque o reino de Cristo não é deste mundo e é no outro, o que está para lá da morte, que virá a recompensa, também o comunismo entretém o povo que explora com promessas impossíveis de cumprir. Os dirigentes comunistas só tiveram de aproveitar a disposição do povo para acreditar em paraísos para o controlar de forma tão eficaz como os curas de aldeia faziam com os seus rebanhos…

    Por isso é que o socialismo nunca poderá ser construído pelos comunistas, porque o que eles dizem que querem não é possível, e o que realmente fazem não é socialismo. Ora eu, que sou agnóstico, tenho pouca paciência para as IURD, sejam elas religiosas ou laicas… O que não quer dizer que não respeite os comunistas sinceros. Respeito-os, mas não lhes passo procuração para resolver os problemas da nossa comunidade… Como não passaria à IURD, à Igreja Maná ou às Testemunhas de Jeová…

    • Renato diz:

      Infelizmente o problema do comunismo têm sido os comunistas, e não o contrário.

      • João. diz:

        Você pode sempre passar a apoiar-se os sociais-democratas, os centristas ou até nos conservadores.

        É curioso a adoração que você tem pelo que lhe passa pela cabeça, enfim, você é o típico liberal que acha que o que lhe passa pela cabeça é o evento de maior gloria e esplendor jamais registrado e portanto, assim sendo, qualquer disciplina colectiva o repugna.

  11. um anarco-ciclista diz:

    Renato: quem denunciou à PIDE os militantes da FAP foi o FMR que cedeu à tortura. Foram dias e dias de espancamento e tortura do sono. Provavelmente nem eu, nem tu, aguentávamos meia-hora. Mas quem denunciou os militantes da FAP à PIDE foi o Xico, não foi o Cunhal. É triste é verdade e aprende (aprendam) a viver com isso.

    FMR foi preso porque tinha um bufo da PIDe infiltrado na sua organização; porque o julgou e o matou e porque a PIDE em função dessa execução, resolveu liquidar a organização pla raiz!

    Até aqui falamos de mentiras, portanto!

    Se queres entrar em “polémicas” , convinha que não omitisses o outro lado (tese-antítese, dialéctica, estás a ver?)

    O célebre número do Avante informou que 3 indivíduos (e apenas foram citados pseudónimos) já não pertenciam ao PCP e que, por isso mesmo, não deviam ser confundidos com quadros do partido dado que, graças aos contactos que FMR dispunha por ter sido alto dirigente do PCP, os mesmos 3 andavam a aliciar e a pedir apoio financeiro. E anos + tarde FMR seria preso plas informações dadas por pu PIDE que matou…

    A tua “denúncia” está aqui.

    • Renato diz:

      Ao alinhar na delação, o Avante e o PCP queriam o quê? Que a PIDE nada fizesse contra as suas dissidências? Essa é a pergunta que se deve formular. A partir do momento que faz a delação, faz parte da armadilha. É que se queremos que Álvaro Cunhal seja o “herói” de muitos avanços no exílio, parece-me bem que não se esqueçam todos os feitos da política no terreno.

      • um anarco-ciclista diz:

        olha gajo, nas palavras de Francisco Martins Rodrigues:
        http://www.primeiralinha.org/destaques4/entremartins.htm

        “Figemos contactos, mandar artigos para Paris para a Revolução Popular, fazer circular a publicaçom. O Pulido arranjou umha mini-tipografia, um prelo pequeninho, onde ainda figem eu dous números do Acção Popular. Tinhamos contactos para a distribuiçom. O Pulido sobretodo era bom para isso, começou a explorar contactos do PC, relaçons pessoais, afectivas, amigos e tal, davam dinheiro. Foi num desses contactos que ele foi cair em cima de um gajo que estava no PC mas que dava informaçons à PIDE, que o Pulido já conhecia antigamente, que ele achava um gajo porreiro. Convidou-o para entrar para a FAP e para o CMLP e o gajo dixo “sim senhor” e num encontro lá estava a PIDE e caçou o Pulido. O gajo manda-nos recado por intermediário de um outro a dizer que foi ao encontro mas “Num café, ouvi dizer que a polícia tinha prendido um gajo, nom sei que passou”. Nós começamos a achar aquilo suspeito. Tivemos dous encontros com ele, com grandes voltas e precauçons. Entretanto o Pulido foi parar à Penitenciária, cousa que era rara. Na Penitenciária o regime era completamente diferente das prisons políticas, e ele pudo mandar recados para afora informando do que tinha passado, a desconfiar desse tal Mateus, que a maneira de como se tinha dado a prisom fazia desconfiar dele. Portanto resolvemos apertar com o fulano e levamo-lo para um sítio descampado, figemos o interrogatório. Ele ao princípio negou mas quando foi apanhado em contradiçons confessou. Colaborava com a polícia desde que tinha estado preso anos antes e a polícia lhe tinha oferecido a saída a troco de colaborar. Tinha vendido o Pulido por dinheiro, estava arrependido porque o Pulido até era amigo seu. Aquilo era mesmo sujo. O Pulido era médico e tinha ido à casa dele tratar o filho várias vezes gratuitamente.

        Logo ali a gente decidiu matá-lo. Essa era umha discussom que já havia anteriormente, havia bastantes infiltrados da polícia, o que era inevitável, claro. O problema era que a esses gajos nunca lhes acontecia nada. Eram reconhecidamente provocadores da polícia e nada, era desmoralizante, “Nom pode ser, em qualquer lado estes gajos também tenhem que pagar polo que fazem”. Quando ficámos com a certeza que ele era mesmo provocador pago pola polícia, demos-lhe dous tiros. Isto foi a princípios de Dezembro de 1965. O Pulido foi preso em Novembro e isto passa-se poucas semanas depois. Havia seis, sete meses que eu estava em Portugal.

        Claro que a PIDE já sabia polo informador que nós estávamos aqui, mas nom tinha mais dados. Também nom devia ligar grande importância: “É um grupinho que aparece a dizer mal do PC, deixa-os andar, até nos pode fazer jeito”. O PC é que era a força, evidentemente. Estavam um pouco na expectativa. Mas perante a morte do gajo pugeram-se atrás de nós. Entre Dezembro e Janeiro começaram a prender pessoas ligadas à FAP, umhas quinze ou mais, até que chegou a nós, a mim e ao Rui. Eu fum a um encontro ali ao pé do Rato com um camarada, à noite. Fum cercado e apontam-me a pistola à cabeça, eu comecei a gritar, juntaram-se algumha pessoas, mas véu um táxi e fum carregado dentro. No Chiado, quando ia para a sede da PIDE, conseguim deixar cair no chao uns papéis que levava e eles nom se dérom conta. Pola janela comecei a gritar, a dizer o nome “Fum preso pola PIDE”, mas era de noite e nom tinha grande conseqüência.”

      • José Gabriel diz:

        Será muito difícil compreender, tirando as palas dos olhos, o que disse o “Ciclista”?
        «O célebre número do Avante informou que 3 indivíduos (e apenas foram citados pseudónimos) já não pertenciam ao PCP e que, por isso mesmo, não deviam ser confundidos com quadros do partido dado que, graças aos contactos que FMR dispunha por ter sido alto dirigente do PCP, os mesmos 3 andavam a aliciar e a pedir apoio financeiro.»
        É falso o que diz! O Avante! avisava os militantes que tal individuo (já) não era militante e que a sua acção não se enquadrava na actividade do Partido.
        Ademais, a ideia era que a PIDE não “apanhasse” os Avantes. De resto, a organização do PCP não ia distribuí-lo à António Maria Cardoso, como já lhe disse.

    • João. diz:

      Quando se faz uma acusação ao menos fornece-se o motivo, ou seja, porque motivo haveria o PCP de querer que um ex-dirigente seu com muita informação sobre o PCP fosse parar às mãos da PIDE?

      • Renato diz:

        Porque estava disposto a reconstruir o Partido Comunista e era considerado um inimigo da organização. De resto, como todos os esquerdistas desde então.

        • João. diz:

          Portanto entregar alguém com muita informação sobre o Partido, perseguido pela Pide, à Pide era conveniente para o Partido…

    • proletkult diz:

      “O célebre número do Avante informou que 3 indivíduos (e apenas foram citados pseudónimos)”

      Isso não é verdade, estavam os nomes verdadeiros.

  12. Rita Governo diz:

    O Bruno Carvalho acaba o artigo aqui de cima com a melhor resposta a esta coisa escrita: «É belo que também os nossos inimigos o façam viver. E fazem-no porque nós nunca o deixámos morrer.»

    Nota: Experimenta, Renato, a concentrar energia nos teus inimigos reais, não naqueles que defenderam o povo de que fazes parte e te deram um Portugal de Abril para cresceres. É só uma questão de “economia energética”.

  13. A.Silva diz:

    Que texto execrável, foda-se estes tipos nunca mais crescem!

    Vai brincar com os bonecos ricardo, vai brincar, que não há maior trabalho “revolucionário” do que brincar com bonecos.

  14. João. diz:

    O esquerdismo em Portugal apareceu na última hora e a sua afirmação começou por ser contra o PCP e é por isso que os partidos esquerdistas desapareceram na direita quando passou a tesão do mijo – os que não abandonaram a política distribuiram-se entre o PS e o PSD. É preciso não esquecer que há 40 anos Nuno Crato e Durão Barroso diziam exactamente o mesmo que aqui se diz sobre Álvaro Cunhal e o PCP e o que eu me pergunto é, retrospectivamente, o que teria significado se o PCP tivesse seguido as teses esquerdistas? A ver por onde anda o MRPP teria significado a extinção e a transformação de Portugal num sistema completamente bi-partidário.

    Hoje, os Barrosos e os Cratos de amanhã, voltam à carga.

    • Renato diz:

      Isso ou as Zitas, né?

      • João. diz:

        As Zitas foram mas o Partido continua. Você não entende que a questão são as organizações. Onde andam as organizações esquerdistas? Que representatividade têm entre os trabalhadores, os estudantes, os desempregados? As antigas organizações esquerdistas sumiram. O pessoal ou saiu da politica ou foi para o PS e o PSD e com isso apagaram a luz e fecharam a porta. Você quer mais um ciclo do mesmo.

        • proletkult diz:

          Essa tese dos “esquerdistas que acabam na direita” só cola no PCP para esconder o facto de que foi daí que saíram mais quadros e militantes para a direita. Por esse país fora quantos dirigentes locais dos partidos da burguesia foram militantes do PCP? Zita Seabra, Pina Moura, Carlos Brito ou José Luís Judas são só as cabeças de cartaz. Mas o PCP em vez de analisar as causas de tanta dissidência pela direita, fica-se pelos (ainda que justos) anátemas que lhes lança.

          Ao contrário do que dizes acima, o problema dos “esquerdistas” após o 25 de Abril não foi terem sido “contra o PCP”. Esse universo estava dividido em dois campos: os reaccionários anti-comunistas (MRPP, AOC, PCP-ml, PUP etc) de um lado e os partidos da FUR, mais a UDP, do outro. Aos primeiros a narrativa do PCP atribui uma importância desproporcionada nos acontecimentos de 75. Quanto mais não seja, o MRPP tinha ficado quase desfeito em Maio desse ano depois dos raids e das prisões em massa feitas pelo COPCON. Nunca mais se recompôs. Os outros eram pequenas seitas, quase inexpressivas na classe trabalhadora e, sobretudo, nos quartéis, onde se jogavam as cartadas decisivas. Os seus dirigentes eram manobrados pela direita e extrema-direita, como sabemos, e para a história ficaram apenas as provocações e alguns slogans.

          O segundo campo, pelo contrário, era bastante próximo do PCP, pelo menos das suas bases. Não hostilizava o PCP (pelo menos à escala dos outros) e a sua estratégia era puxar o PCP para o seu lado (um pouco à imagem do que o PC fazia com o PS). Eram partidos com uma razoável expressão nos trabalhadores e nos quartéis, e com actividade revolucionária consequente. Eram estas organizações quem mais tinha força em empresas como a Timex ou a TAP, quem dirigia boa parte das comissões de trabalhadores e moradores dos bairros pobres, quem coordenava muitas das ocupações de fábricas, casas e campos, quem estava dentro das assembleias de quartel, quem montava vigilância revolucionária e por aí fora. Embora o PCP ache que a ocupação da Renascença, do República, o cerco ao parlamento, as manifestações dos SUV etc eram “provocações”, a verdade é que eram a expressão dos sentimentos revolucionários dos trabalhadores. Curiosamente, no caso dos camponeses Alentejanos, já era tudo revolucionário, mas adiante. O próprio PCP vai servir-se da FUR quando apela aos seus militantes para se juntarem à manifestação do Terreiro do Paço (porque era, diziam, “anti-fascista”) em plena negociação da distribuição de poleiros para o VI Governo Provisório. Ou seja, o problema destes “esquerdistas” não era serem “radicais” ou “contra o PCP”. Era precisamente serem muito moderados e estarem demasiado dependentes dos passos do PCP. Depois do golpe de Novembro (onde foram os únicos a mexer-se contra os comandos) dispersaram e foram desaparecendo, como é natural. Eram grupos muito pouco consistentes política e ideologicamente, que dependiam em demasia do COPCON, da ala mais à esquerda dos militares e da dinâmica de massas no geral. Quando tudo isso morreu, eles morreram também. E se calhar o facto de o PCP não ter sido atingido pelo golpe de Novembro, antes pelo contrário, devia merecer reflexão interna.

          • João. diz:

            Mas esse é o problema do esquerdismo – a sua acção não se aguenta nos seus militantes, porque ou bem que se toma o poder à força e rapidamente ou bem que se passa à luta essencialmente legal. Se se ficar no intermédio, no toca e foge, os militantes vão sempre ser poucos e pode ainda acontecer que o próprio povo desaprove.

            A mim parece-me que o PCP percebeu isto na altura em que se colocou a questão da guerra civil. Na impossibilidade de ganhar rapidamente ia restar ou o conflito civil militar aberto com graves prejuizos para o povo como todas as guerras civís correndo ainda o risco do exército americano entrar por cá a dentro através da ONU ou coisa que o valha, ou restaria o regresso à clandestinidade e ao terrorismo político o que, retrospectivamente, olhando para a história de ideias semelhantes na europa, não prometeria nada de bom.

  15. Diogo diz:

    Sempre gostei de balões. Enchem. Incham. Acabam sempre por rebentar quando esticam demais. Ou engelham-se sozinhos quando esquecidos… mas sempre, e apenas têm no seu interior ar.

  16. Pedro Pinto diz:

    Todo este texto é escrito para poder usar a expressão “reformista contra-revolucionário de fachada socialista”, em jeito de vingança pelo facto do Álvaro Cunhal ter desmontado com tanta mestria a falta de coerência e objectividade dos esquerdistas.
    É caso para perguntar onde estão as massas oprimidas pelo reformismo contra-revolucionário do Álvaro Cunhal? Que grupo de trabalhadores acusa o PCP de ter limitado as suas conquistas?

    A verdadeira revolução é aquela que afecta a natureza do estado dando força ao proletariado. Isso foi conseguido na medida em que as massas apoiaram as forças progressistas lideradas pelo PCP. Foi iniciada a reforma agrária, houve controlo operário das fábricas, foi posto fim à guerra colonial, foi nacionalizada a banca, foi criado um serviço de saúde público, foi instalado um serviço de educação público. Tudo isto revolucionou a natureza do estado para servir os interesses das classes trabalhadoras e não os interesses do capital. Onde está o reformismo? Isto é revolucionário!

    Se não foi conseguido mais, isso não deve ser imputado ao PCP nem a Álvaro Cunhal, mas sim às forças contra-revolucionárias que desde a primeira hora se posicionaram para travar a revolução.

    Quando se dá mais importância ao papel individual na luta do que aos objectivos a alcançar e à consciencialização das massas, então surge este radicalismo que não passa de um fogacho. Ser a vanguarda da classe operária significa estar junto dos trabalhadores, ombro a ombro, motivando-os e organizando a justa luta. Não significa ter posições radicais sem qualquer apoio das massas, posições essas que são inclusivamente contraproducentes para os objectivos a alcançar.

  17. um anarco-ciclista diz:

    EMBRULHA ESTA, RENATO:
    Francisco Martins rodrigues relata a sua prisão
    http://www.primeiralinha.org/destaques4/entremartins.htm

    “Claro que a PIDE já sabia polo informador que nós estávamos aqui, mas nom tinha mais dados. Também nom devia ligar grande importância: “É um grupinho que aparece a dizer mal do PC, deixa-os andar, até nos pode fazer jeito”. O PC é que era a força, evidentemente. Estavam um pouco na expectativa. Mas perante a morte do gajo pugeram-se atrás de nós.”

    • Renato diz:

      Eu não embrulho nada que não tenho marmita. Se a PIDE já sabia pelo informador pode dispensar as informações do Avante. Ainda assim, lá estavam, não fosse faltar informador. Isso ou responder à pergunta: prestou ou não se prestou o Avante a tal exercício?

      • Pedro Pinto diz:

        Como já foi explicado acima, andava um dissidente a aproveitar-se do aparelho do partido para actividades perigosas para a luta de massas e que colocava em risco o próprio partido. Não há delação nenhuma. Há o acautelar os camaradas para que não se envolvessem com o dissidente para não comprometer todo o partido.

        • Renato diz:

          O salutar alerta, claro. Que nunca serviu a PIDE. Cada qual reescreve a história da maneira que melhor lhe faz ao sono.

          • Pedro Pinto diz:

            sobre reescrever a história, aqui fica o texto original do avante, na página 3, com o título “cuidado com eles”. se a pide conseguiu prender o fmr com base neste texto, deve haver nele um código secreto qualquer que eu não consigo desvendar.

            Click to access AVT6349.pdf

          • Renato diz:

            “Aos militantes, aos democratas e às pessoas honradas” . Haverá algo mais a dizer?

            Obrigado pelo documento. Isso sim um bom contributo para o debate. Espero que tenha tido lugar de destaque nas comemorações.

          • Pedro Pinto diz:

            Claro que, neste ponto da discussão, o que interessa é o linguajar dos anos 60!
            Os comunistas são pessoas honradas, que problema há nisso?

            Realmente é irrelevante o facto do texto em causa não ser da autoria do Álvaro Cunhal. É irrelevante que ele não seja delator do FMR, que é mencionado apenas como referência, ao contrário do que tu afirmas na tua publicação. É irrelevante que não seja dada nenhuma localização dos outros dois indivíduos mencionados no texto que pudesse levar à sua captura. É irrelevante o facto de eles terem saído novamente de Portugal sem serem presos.

            Falando de reescrever a história… escreveste:
            “Francisco Martins Rodrigues foi denunciado no Avante, num processo de delação que a PIDE aproveitou para lhe fazer o cerco e cuja intenção não era outra senão precisamente a que teve.”

            FMR não foi denunciado no Avante!
            Não houve qualquer delação, nem o texto é da autoria do Álvaro Cunhal.
            A PIDE não aproveitou nada para fazer cerco nenhum. Isso resulta de uma imaginação fértil. Como já aqui foi referido, FMR foi preso na sequência de uma acção da sua própria organização, sem qualquer envolvimento do PCP.

          • Renato diz:

            Os comunistas eram os militantes, imagino. Ah e o povo, claro, mesmo que não saiba disso.

      • um anarco-ciclista diz:

        Já to expliquei lá mais em cima.

        Tu, que lanças a calúnia, é que tens de provar as tuas afirmações.
        Aliás! Passas completamente por cima das declarações da “tua” vítima… que te desmente! Sintomático

        • Renato diz:

          Lá está. Eu acho que o PCP denunciou e isso tinha uma intenção. Tu argumentas que não porque a delação foi ultrapassada por um bufo. Estamos esclarecidos, mais uma vez bananas, ora pois.

  18. Zé Comuna diz:

    Diz o escriba a propósito do homenageado “Não lhe reconheço grandes méritos ao passo que os defeitos saltam à vista.”
    Certamente por ser vesgo! Se não fosse, veria certamente que “Até amanhã Camaradas” é a única verdadeira obra contra o salazarismo. O resto são lérias escritas por escribas de igual teor. E como é vesgo não gonsegue ver a beleza de todos os desenhos que Álvaro fez na prisão. Pois é, se calhar o amigo nem lhes conhecia a existência! Poderemos mostrar os defeitos. Podemos e devemos, mas o escriba redondamente não reconhece nada de valor ao homenageado. Porquê? Só pode ser por ~uma de duas razões: ou é vesgo ou é cego. Ou as duas em última análise!!! Tenha um óptimo dia e aproveite para ir ver o filme dessa obra maior que é a de Álvaro Cunhal já que para a leitura parece ter pouco jeito!

    • O “Até Amanhã Camaradas” é a única verdadeira obra contra o salazarismo. Sem dúvida! E aproveito para acrescentar que, recentemente, se descobriu ter sido Álvaro Cunhal o autor das pinturas da Capela Sistina (pelo menos a parte do Juízo Final), da 9.ª Sinfonia, erradamente atribuída a um tal de Beethoven, e das obras completas de Karl Marx e Marcel Proust.

    • proletkult diz:

      A obra é o melhor romance político português e um dos meus favoritos, dentro do género. Mas até aí Álvaro Cunhal dá largas ao seu reformismo. A discussão entre quadros e militantes sobre a decisão do governo que impunha tectos salariais nas praças de jorna é o grande exemplo disso. Além de que os argumentos do Comité Central são apresentados de uma forma muito vaga.

  19. Pedro Sousa Almeida diz:

    Simplesmente um texto deplorável, mentiroso e ignorante escrito por alguém que, para além do seu anti-comunismo primário, não faz a minima ideia do que foi a vida, obra e luta do Alvaro Cunhal. Tão ou mais grave do que o conteúdo do texto, é o facto do autor de intitular (creio eu) de esquerda. Deprimente.

  20. Ivan Panfilov diz:

    Renato.

    Nada tenho a crescentar nada àquilo que escreves acerca de Álvaro Cunhal. Não concordo mas acho normalissimo este tipo de retórica, se já Barroso, Pacheco Pereira, o grande educador e muitos outros “Grandes Homens de Esquerda” manifestaram a mesma opinião.

    Lastimo é teres vindo tão atrasado.

    Apenas um reparo. Quando receberes a recompensa do trabalhinho não aceites cheque, arricas-te ficar preso a quem te paga.
    Exige dinheiro vivo.

    Ivan Panfilov

    Cumprimentos desde Volokolamsky

  21. miguel cunha diz:

    Este texto é sobretudo um texto sobre o Renato Teixeira, não é sobre Álvaro Cunhal. Nele procura fazer a liquidação moral do AC. Fá-lo baseando a sua argumentação numa falsidade. Essa falsidade já lhe foi referida aqui nos comentários. Mas como corrigir isso significava que a sua tese ia por água abaixo, o RT mantém-na. Este texto tinha como objetivo principal passar a mensagem da delação de AC. Ao fazê-lo, RT tornou-se, ele sim, um delator.

  22. VO diz:

    chama-se autocrítica e não é comida fina – …mas de comida fina já percebes tu, certamente.

    « Um aspecto entretanto se deve ainda referir. Há tempos estiveram em Portugal dois desses elementos que, por actividades políticas passadas, não têm uma situação legal. Aplaudindo a sua actividade cisionista, a PIDE podia não estar interessada na sua detenção. Mas poderia também estar interessada em fazê-lo para efeitos de especulação política e para lhes dar um pouco de “autoridade de revolucionários” na sua luta contra o Partido. De qualquer forma, trata-se de pessoas que não tinham uma situação legal e podiam ser presas pelo nosso inimigo. Por isso, primeiro o Secretariado do CC, depois o Comité Central na sua reunião de Janeiro de 1965, consideraram um erro e infracção da orientação traçada anteriormente a publicação no Avante! do nome desses dois inimigos do Partido» (Álvaro Cunhal, «Relatório da actividade do Comité Central ao VI Congresso do PCP»)

    • proletkult diz:

      Eu tinha a impressão de que o próprio Cunhal tinha declarado qualquer coisa desse género, mas não tinha a certeza. Resta só referir, uma vez mais, que o nome de Francisco Martins Rodrigues não era nenhum desses dois.

    • proletkult diz:

      Já agora, essa citação serve de prova a quem acha que o PCP não quis denunciar esses homens à PIDE, já que é o próprio Secretário-Geral quem lhe atribui esse carácter.

      • JG diz:

        Foda-se, você não sabe ler? Não lê que o PCP reconhece o erro dos responsáveis do Avante e não sabe que os dois citados não foram presos? Acha que a PIDE não sabia da existência do terceiro, o grande revolucionário FMR?
        Que se discuta o Cunhal, se foi reformista ou revolucionário, tudo bem, agora delator da PIDE foda-se lá o caralho, provoca vómitos. Ainda por cima vindo de admiradores de quem de facto bufou quando lhe apertaram os tomates na PIDE.

  23. Eu já li textos semelhantes a estes produzidos pela AOC.

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  30. JgMenos diz:

    ‘…a eterna ilusão de que a “guerra do Ultramar” se derrotava indo para a “guerra Colonial”, sabe-se lá fazer o quê.»
    Eu passo a explicar:
    1 – Os ‘fascistas’ eram uma papa mole e como tal bem capazes de colocar um alferes miliciano comuna a comandar um pelotão de intrução de oficiais milicianos!
    2 – Imagina que esse cabrão tem uma crise de nervos nas matas de Mafra e chora baba e ranho porque não teve tomates para passar à clandestinidade como alguns camaradas seus.
    3 – Em quase quarenta milicianos ninguém denunciou o chorão, ou o fiteiro – está por apurar.
    Eis as tácticas do Barreirinhas para desmoralizar as tropas.
    Parece-me bastante eficaz,

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  33. João Medeiros diz:

    É de política que se trata … não de chicana como alguns aqui fazem, em vez de esgrimirem argumentos políticos com o que não concordam.
    De facto, a unidade democrática dos bons portugueses (tão cara a Álvaro Cunhal e aos seus prosélitos) já foi tentada em todas as combinações possíveis. Em fascismo, em democracia, em crise revolucionária, com republicanos tradicionalistas, com socialistas, com generais descontentes e com capitães amotinados; com manifestações, greves, petições, eleições.
    Falhou sempre. Com fé obstinada e obtusa que seria comovente se nela não tivessem sido jogados os destinos da classe operária portuguesa, Cunhal procurou sempre o milagre de uma República estável em que todos fossem felizes, os bons operários e os bons patrões, todos em pacífica caminhada para o socialismo, tal o “sumo” da sua Revolução Democrática.
    Este esquema está de pernas para o ar: não é apelando à unidade que se alcança o socialismo; só se a classe operária for capaz de impor o socialismo, em guerra aberta com a burguesia, conseguirá unir o povo. Não é a Unidade que dá a revolução, é a revolução que dá a unidade. Cunhal errou tudo.
    Com o seu grande projecto, julgando conduzir a política nacional, foi conduzido por ela, levando a classe operária a reboque dos ziguezagues da burguesia democrática e nacional, cada vez menos democrática e nacional. Fez-nos perder meio século, pondo o movimento operário de joelhos. Aos que o quiserem seguir, bom proveito.

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