O Movimento III República e a “pasokização” do PSOE

Na passada segunda-feira, no próprio dia em que o Rei coroado pelo franquismo abdicou, uma onda de grandes manifestações varreu todo o estado Espanhol. Houve protestos em todas as capitais regionais e em muitas outras cidades. De resto os protestos não se limitaram à Espanha, por todo o mundo, sobretudo na Europa, realizaram-se dezenas de concentrações (aqui). Não se sabe ao certo quantos cidadãos tomaram as ruas pela República e contra o actual regime, mas no mínimo foram centenas de milhar.

Para hoje, sábado, estão previstas novas mobilizações. Para lá disso, estão a ser marcadas assembleias para definir o curso do movimento e eventualmente realizar um referendo popular (aqui).

Manifestações por toda a Espanha, aqui está um apanhado fotográfico, só de alguns dos locais onde tiveram lugar os protestos

Manifestações por toda a Espanha, aqui está um apanhado fotográfico, só de alguns dos locais onde tiveram lugar os protestos

É preciso lembrar que estas mobilizações, sendo uma resposta imediata à abdicação do Rei e correspondendo a um enraizado sentimento Republicano existente em Espanha, têm lugar num mais vasto contexto de luta social e decadência do regime. A profunda crise social e económica, os escândalos de corrupção (financiamento do PP, família real, etc…), a crise Catalã, o movimento dos indignados, as greves dos mineiros das Astúrias ou dos varredores Madrilenos… É sobre este pano de fundo que agora se gera mais uma importante clivagem entre as camadas populares e a “casta”… entre aqueles que defendem um referendo à monarquia e consequente revisão constitucional e aqueles que defendem o status quo e a sucessão sem decisão democrática.

Manifestação a favor da República de segunda feira na Praça do Sol em Madrid

Manifestação a favor da República na Praça do Sol em Madrid

Independentemente dos resultados imediatos destas manifestações pró-Republicanas, elas sinalizam e contribuem para o acelerar de algumas tendências na política espanhola.

  • A esmagadora maioria da raiva e descontentamento popular com a crise económica e social está claramente a polarizar-se à Esquerda do regime. Quando o movimento dos indignados tomou conta das praças em Espanha, muitas críticas foram feitas ao carácter algo difuso, ambíguo e até contraditório desses protestos. O resultado do Podemos e da Esquerda Unida nas últimas eleições já deu bem a entender quais foram as forças políticas que polarizaram esse descontentamento. Este movimento a favor da República reforça essa polarização à Esquerda e dá um claro cunho anti-regime monárquico/oligárquico a todo o descontentamento social. É preciso entender que gera-se aqui uma relação dialéctica. O movimento a favor da República nesta conjuntura de crise cativa camadas populares que anteriormente lhe seriam indiferentes (para não dizer hostis), por outro lado o descontentamento generalizado algo difuso polariza-se numa proposta que vai directamente contra as instituições do regime oligárquico Espanhol.
  • O movimento pela III República fornece o foco, quase perfeito, em torno do qual as várias forças à Esquerda do regime se poderão aglutinar. Tal como em Portugal (e ao contrário da Grécia), em Espanha não existe uma única força à Esquerda do regime com capacidade para chegar ao governo e ensaiar algumas políticas de ruptura com o staus quo ou de “reformismo radical”… um pouco como aconteceu na América Latina (não é por acaso que o ex-pm Gonzalez zurra contra o perigo das “alternativas bolivarianas”). Ora, há obstáculos à constituição de uma espécie de Frente Popular (sem os partidos do social-liberalismo) em Espanha, mas as mobilizações pela República dão um empurrão na direcção certa (aqui e aqui).
  • O PSOE em processo acelerado de “Pasokização”. As eleições europeias já tinham dado um forte sinal de que o PSOE se estava a “pasokizar”, esse processo é reforçado com a postura absolutamente reaccionária do PSOE face à abdicação do Juan Carlos (aqui). Em Espanha, apesar de estar na oposição, o PSOE arrisca-se nas próximas eleições a obter resultados semelhantes ao PS Francês e a ser ultrapassado por forças à sua Esquerda, tal como já acontece na Irlanda e na Grécia.

O que se está a passar em Espanha é sintomático da natureza das forças social-liberais. Por toda a Europa, mas sobretudo nos PIIGS, o social-liberalismo confronta-se com um dilema existencial. Por um lado pode lutar para garantir a sua sobrevivência política, o que implica opor o mínimo de resistência ao grande capital e suas instituições. Por outro lado pode cair sobre a própria espada e sacrificar as suas organizações e estrutura no altar dos “deuses” do regime e dos grandes negócios. Até agora a escolha tem sido sempre a mesma, os social-liberais preferem cair sobre a própria espada do que esboçar o mínimo de oposição consequente aos “mercados” e grande finança.

Esta é uma importante lição para tod@s que pretendem procurar saídas democráticas e  progressistas para a crise. Quem quiser contar com o PS para o que quer que seja de alternativa à Esquerda comete um gravíssimo erro. Na melhor das hipóteses, restringe muito da sua acção política à espera de algo que nunca irá acontecer, na pior, amarra-se a um barco que se está a afundar…

O vídeo acima é dirigido ao cuidado da malta de Esquerda em geral e muito em particular aos muitos Bloquistas que têm de alguma forma reivindicado os resultados do Podemos. Especial atenção ao tom populista do Pablo e ao facto de existirem directas no Podemos… é que mais do que ser a favor ou contra as directas, sou totalmente contra o discurso de medo, elitista e anti-popular que o Loução faz a propósito desse tema (aqui).

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5 respostas a O Movimento III República e a “pasokização” do PSOE

  1. Argala diz:

    Vamos observar também um fenómeno de pasokização cá dentro e possíveis coligações de centro. Os patos bravos já andam à estalada porque não vêem o retorno no próximo ciclo eleitoral e os tachos não são suficientes para todos. Até estou a pensar em votar no tozé seguro dia 28 de Setembro para ajudar a acelerar o processo.

  2. Luis Marques diz:

    Ó Francisco, e a República Popular de Donetsk? Há que completar o trabalho porra.

    • Carlos Carapeto diz:

      ДНР ????????.

      As coisas continuam num impasse, até ao momento nem um único passo atrás, como disse Ivan Boldin quando se encontrava cercado em Tula.

      SLAVIANSK RESISTE enquanto o mundo assiste vergonhosamnte em silencio à bárbarie.

      Com muito sacrificio e muita determinação por parte dos heróis que estão a enfrentar heroicamente o impeto animalesco das hordas nazis.

  3. Carlos Carapeto diz:

    O Francisco no seu melhor sempre disponivel em ofecer muito boa informação.

    Gostava de estar presente mais vezes, mas a vida não permite. Vou aparecendo quando posso.

    Obrigado

  4. Bolota diz:

    O que impressionante é o mar de gente que se movimenta em prol de…por cá era impensavel um movimento deste, dai, ser o que somos

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