Os direitos defendem-se, exercendo-os

Não me vou esquecer nunca de quando atendi o telemóvel e camaradas meus da JCP estavam a ser detidos em frente à António Arroio, nas Olaias.

Pintavam um mural, em nome de melhores condições na escola. Foram surpreendidos por várias carrinhas e carros da polícia. Foram detidos e levados em carrinhas separadas. Dois eram menores de idade.

Foi a 13 de Outubro de 2010. Quando finalmente me encontrei com eles para que me contassem de viva voz, elas choravam revoltadas com a situação. Dos 5, 4 eram raparigas, dois menores. Elas, foram levadas para uma cela, despidas, insultadas. Pela roupa, pelo cabelo, pela militância na JCP.

Nuas dentro da cela, a agente insultava-as enquanto procurava droga. As mochilas ficaram intocadas. Não as deixaram falar com os pais nem com nenhum advogado.

De imediato, os pais, o Partido, a JCP decidiram avançar com queixas à Direcção Nacional da PSP, ao MAI, à IGAI. Com a denúncia política deste caso. O 5dias, à data, foi um dos grandes motores desta denúncia. Os meus camaradas foram ouvidos dezenas de vezes na polícia. O Ministério Público avançou com processos contra todos.

Como havia menores, a Segurança Social prescrutou-lhes a vida toda. Entrou na sua escola, perguntou sobre as suas características, foi a casa deles saber se se davam bem com os pais e os irmãos.

De cartão em punho, com os pais e com o seu Partido foram a Tribunal e afirmaram não ter cometido qualquer crime. O Tribunal deu-lhes razão.

Dois anos depois, chega novo processo, em relação às maiores de idade. Mais uma vez interrogatórios, acusações. A resposta foi sempre a mesma: os direitos defendem-se exercendo.

Hoje sabe-se que «um chefe da 5ª Divisão da PSP de Lisboa foi suspenso pela Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI) por “revista abusiva” a cinco jovens que em 2010 foram apanhados a ‘grafitar’ as paredes da Escola António Arroio, nas Olaias. O elemento policial, que está a cumprir a ‘sentença’ desde o dia 23 de agosto, ainda interpôs uma providência cautelar sobre a decisão, mas a IGAI invocou o “interesse público” da mesma, a que o tribunal acedeu

E eu agradeço ao João, à Elsa, à Carolina, à Marta e à Ana pela sua coragem, pela sua resistência e pela sua luta. «É em frente que vamos, não é verdade? É em frente que vamos.»

Esta entrada foi publicada em 5dias. ligação permanente.

34 respostas a Os direitos defendem-se, exercendo-os

  1. João diz:

    Não conheço o João, a Elsa, a Carolina, a Marta ou a Ana, mas quero-lhe agradecer. Porque é essencial resistir, porque é essencial lutar, porque é essencial haver gente assim. Do mesmo modo que é essencial que a esta gente muita outra gente se vá juntando, de modo a construirmos juntos o muro imprescindível que nos permita defender a civilização do avanço da barbárie.

  2. Pedro diz:

    Assusta-me o facto de caminharmos a passos largos para uma ditadura. E esta será ainda pior do que as que tivemos conhecimento!

  3. Miguel diz:

    A maioria da polícia portuguesa é composta por gente mal formada que nada percebe de política e só obedece perante os seus superiores. É comum usarem da violência quando lhes falta a razão. Por exemplo, recordo-me de um caso que envolveu um jovem que se manifestava pelo fim do Grémio Lisbonense e que foi espancado por um polícia. Para além de ter sido levado para uma sala vazia, o polícia usou de um bastão e de uma cadeira para bater.

    Enquanto ficamos ultrajados diante destas cenas de violência, há quem goste e quem as defenda, como é o caso daquele gordinho que aparece no “Eixo do Mal” (Pedro Marques Lopes?) Por exemplo, aquando da última carga policial na AR, este senhor achou que foi pouco aquilo que alguns manifestantes levaram de pancada da polícia de choque. Às vezes, o problema é daqueles que defendem este tipo de espectáculo de violência gratuita e que têm direito a um lugar na comunicação social.

  4. JgMenos diz:

    As paredes não se fizeram para outra coisa que não seja para tela onde a JCP possa exprimir o seu elevado pensamento!
    Ao povo trabalhador compete pagar a tinta e a mão-de-obra que renova a tela que há-de receber esses preciosos contributos.
    Revista abusiva haveria de dar indemnização!

    • Lúcia Gomes diz:

      Meu caro, a propaganda política (ainda) é um direito constitucional. Talvez no dia em que o levem a si ou aos seus filhos porque têm um papel na mão, perceba do que aqui se fala.
      Cumprimentos.

      • De diz:

        Não.A questão não é só a ilegalidade da acção da polícia no que diz respeito `à detenção dos jovens em causa.Nem o bate-palmas síncrono de Menos face à violação dos direitos constitucionais de quem assim age.
        A questão vai mais longe,porque a actuação da polícia no caso vertente foi o que foi.E a tentativa de Menos fugir pelo buraco da agulha da demagogia barata e da propaganda à moda germânica não pode passar incólume.
        Os silêncios de Menos sobre alguns dos factos aqui retratados são demasiado eloquentes.
        E, com um pedido de desculpas à autora do post,fedem

      • Khe Sanh diz:

        Não podemos e nem devemos abandonar a luta, porque outros já o fizeram em piores condições e finalmente conseguiram vencer.
        Hoje é o tempo deles, se não desistir-mos, amanhã será o nosso.

      • JgMenos diz:

        Pintar um mural (depende onde) ou ter um papel ou distribuir um papel vai a distância entre a civilidade e a paródia!

    • Miguel diz:

      Eu sei que haverá por aí um complexo qualquer que o mantém ligado ao blog “5 dias”, nem que seja para se auto-flagelar um bocadinho, mas por favor, não seja inoportuno, porque essas suas últimas palavras revelam a consciência pesada de um ser doente, a precisar de muito apoio e ajuda.

    • Khe Sanh diz:

      “Ao povo trabalhador compete pagar a tinta e a mão-de-obra que renova a tela que há-de receber esses preciosos contributos.”

      E quem são os comunistas senão o povo trabalhador? Em que toca estás enfiado para não saberes isso?

      Queres ainda maior “contributo” que aquele que os teus correligionários obsequiaram o povo e os trabalhadores com as falcatruas do BPN e quejandas?

    • Miguel diz:

      Já agora… é você “O Chispa” ou a “Chispa”?

  5. André Amador diz:

    Obrigado pelo texto, Lúcia!

  6. JP diz:

    Grande respeito por todos.
    Obrigado

  7. sefossebófia diz:

    A Policia é sempre mui corajosa para com os fracos e um monte de merda para com os fortes-ainda lhes chamam de xors doutores. Do GAMANÇO,palhaços pagos por nós!

  8. José Jorge diz:

    Por falar em pinturas, já limparam aquela nojice de pinturas com que a JCP borrou as seculares Escadas Monumentais em Coimbra? É que se não o fez devia-o fazer, porque delapidar património é crime!
    Se querem pintar vão pintar para a Coreia do Norte ou para Cuba!

    • Lúcia Gomes diz:

      Sabia que foram todos absolvidos nesse processo e que a candidatura das monumentais (escadas do fascismo) a património mundial da Unesco foi justificada, precisamente, pelos murais ali pintados pelos estudantes contra o fascismo?
      Pois.

      • Secular quer dizer com mais de 100 anos. Acho. diz:

        “Seculares”? Obra do fascismo nos anos 50. Tem juízo ó José que património histórico nessas escadas é o de as pintar e de nelas resistir frente aos cavalos da GNR. Mais “secular” é arte da pintura mural que está aí para durar! Que viva a JCP e todos os que resistem de pincel na mão!

        (http://pt.wikipedia.org/wiki/Escadas_monumentais)

        • André diz:

          E não só as Monumentais, havia murais lindos na alta que o “tempo” apagou, quem se lembra “da mão a partir a Suástica”! Ou do Indio, onde estão?! Que alguns fiquem incomodados por se pintar as escadas salazaristas temos muita pena, tenho é sim pena que se pinte edificios com História de facto, isso sim, agora caixotes e construções da Ditadura? Ou fazemos como o Rui Rio tentou fazer no Porto, com uma taxa para o municipio e logo com o preço que era? Eu vou continuar a fazer pinturas sempre que me apetecer, e se tiver de cometer o delito de desobediência, temos muita pena, na minha familia já págamos esse e continuamos com espirito! (já agora, aproveitem para ver o mural lindo do Abel Manta nos jardins da Associação Académica, em Azulejo). Rivera: Quanto à tradição, o corpo estudantil sempre foi irreverente, alguns dos que defendem a “dita tradição” deveriam defender também greves, manifestações e outros protestos, tb fazem parte da Tradição Coimbrã, mas aí alguns dos ditos “tradicionalistas” dizem “alto e pará”, não deve dar jeito!

    • Rivera diz:

      A ignorância há vezes até assusta, as escadas monumentais seculares!? Integrantes da do espaço universitário, sem dúvida, e aí com toda a carga histórica que inclui grafittis políticos. A verdade é que os que pintaram as escadas lutaram sempre pela verdadeira cultura coimbrã, que inclui o fado e as repúblicas, e os que protestaram contra as pinturas, pobres tolinhos, só vêm na tradição académica a sua versão têxtil aprumadinha. Um grande FRA para a tradição dos estudantes de Coimbra que incluí capas e batinas, reais repúblicas e queimas, serenatas e fados e baladas, rebeldia e murais, saudade e muito, muito espírito crítico. Vá ser rapado que esses cabelos apenas ornamentam uma caixa vazia de ideias.

  9. Bolota diz:

    lucia,

    Melhor que o texto, só o que lhe deu origem, porque resistir é preciso

  10. Gabi diz:

    Andava há tempo para saber o desfecho dessa babárie. Agora só me falta conhecer o nome dos senhores e senhoras agentes da PSP…para lhes dedicar um mural.

  11. J diz:

    eu ia escrever clap clap clap mas o De antecipou-se. CLAP CLAP CLAP!

  12. Álvaro diz:

    fui consultar o site do pcp e nada sobre este assunto.

    seria de esperar que esta vitória da justiça e dos direitos humanos sobre a barbárie fosse amplamente difundida pelo partido. mas não. ficamo-nos por um anúnicio oficioso de uma militante num blog que nem é sequer de militantes do pcp, embora escrevam nele militantes do partido.

    nada.

    porque, se o pcp mandasse, aí é que vocês iam ver o que é respeitinho…
    porque, do pcp nunca se ouviu uma condenação da violência policial.
    porque, afinal a polícia é um esteio do estado de coisas. e “os polícias são trabalhadores” não é? não são apenas os executores das ordens de uma instituição que defende o capitalismo e a opressão daqueles que lutam diariamente contra o capitalismo.
    porque, o pcp, por muito que diga que é contra o capitalismo e coisa e tal, é um partido do sistema. e no dia em que o pcp lutar contra o sistema de uma forma que possa realmente causar danos é marginalizado e acabam-se as mordomias próprias de estar dentro do sistema.

    • Lúcia Gomes diz:

      Se o PCP fosse tudo isso, os seus militantes não eram sistematicamente perseguidos pela polícia.
      A aritmética é simples. O preconceito é que estupidifica.

      • Álvaro diz:

        cara, o sistema também precisa disso. precisa de um partido que emule uma sensação de oposição. na medida certa, naturalmente.

        não rebato o seu argumento. não tenho dúvidas que a Lúcia e muitos dos seus camaradas estejam na luta de forma arreigada e convicta. e nem me passa pela cabeça afirmar que estejam a ser manipulados. diria antes que vocês são aqueles que podem baralhar as contas. a todos os que armadilharam este sistema. lutem por sair dele. mesmo dentro de um partido que não o pode fazer.

    • Miguel diz:

      Isso será complexo anti-PCP? Olhe que aquilo que escreve não é verdade, por muito que queira insistir. Se conhecer as pessoas que são do partido, todas são contra o capitalismo e contra qualquer forma de repressão.

Os comentários estão fechados.