protesto-boicote no Minipreço

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surgiu desidentificado e sem uma linguagem colada a nenhum dos cantos das nossas esquinosas esquerdas: um apelo à solidariedade com os trabalhadores transferidos daquela para outras lojas, a pretexto, como castigo e «aviso à navegação» para os restantes trabalhadores, em represália por terem aderido à greve geral convocada pela CGTP e, até, a UGT. reivindicações concretas de reintegração dos prejudicados, cartazes com a declaração de intenções e com um mapa com alternativas concretas, mercearias e frutarias, na zona, para que o boicote seja realmente possível, colados pela rua. mais claro, impossível.

à chegada, um carro dos senhores de azul de cada lado da rua. e gente com fartura: entre quem alinha pela própria cabeça e é politizado na mesma, anarco-sindicalistas, alguns bloquistas (tipo eu!), gente do PCP que tenho todo o prazer em tratar por camaradas, malta do MRPP e de vários grupos libertários e muitos vizinhos a chegar, a ficar um pouco, a resmungar contra a situação. belíssimo ambiente, animado, calmo, muitos lá dentro, de caneta em riste, preparadíssimos para preencher com todo o cuidado o livro de reclamações.

lá fora falava-se com quem chegava e queria saber o que se passava. lá dentro articulava-se o anger management da malta que, do fim de uma das filas das caixas, insistia que tinha o direito de comprar a comida do gato e recusava fazer o lógico e o mais comum (que era abandonarem as compras e a loja logo que reparavam que iriam demorar séculos a comprar fosse o que fosse…) e quem reclamava o direito de pedir o livro de reclamações, na caixa que bem lhe aprouvesse. a polícia queria «manter a ordem» e houve quem lhes lembrasse que só lhes cabia «cumprir a lei». que naquele caso era garantir o direito ao protesto, legal cumá imperial:

… tinha mesmo de comprar esta maçã. sim, só esta. e o livro de reclamações, por favor. só há um e está a ser usado por aquele rapaz na caixa ao lado? que chatice. não faz mal, eu espero. e depois nunca mais cá volto até readmitirem os trabalhadores. ora tomem lá, e em duplicado, se quiserem.

e o minipreço acabou por fechar mais tarde e não houve compras por umas horas, e vizinhos aguentaram horas para deixar o protesto registado. porque o direito à greve não é um direito de todos, pelo menos enquanto houver precários e pressões e enquanto retaliações destas passarem sem que alguém se zangue e as impeça, e as denuncie, e prejudique quem as leva a cabo. que bom que é que as pessoas ainda se zanguem, ante toda esta apatia e impotência. não é?

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…à porta, A3 ampliados e fotocopiados em papel amarelo a partir de um fax com a data do mesmo dia, colados ao que consta pelo patronato, com um comunicado à imprensa do sindicato repudiando o boicote e declarando que ele não ajudava nada à resolução dos problemas dos trabalhadores. eu nem queria acreditar e tive de ler no site do CESP para acreditar que não era uma montagem maldosa. acho que foi a primeira vez que vi um patrão distribuir comunicados de um sindicato.

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… o título mais escusado dos últimos tempos. ninguém usou nome de sindicato nenhum para convocar este protesto, como é evidente. e uma coisa seria o afirmarem, correctamente, que não eram os responsáveis pela convocatória, mesmo que eu não entendesse essa posição, já de si pouco solidária, táctica, na melhor das hipóteses (ignoravam, e bastava, não?) … mas como é que uma estrutura política chega à conclusão que é preciso não só distanciar-se como REPUDIAR uma acção de solidariedade e boicote de consumo (e muitos vizinhos há, ali, solidários com os trabalhadores, pelo que se viu) contra as consequências de abuso sobre os trabalhadores, por conta de uma greve que os próprios sindicatos convocaram? uniquê?

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21 respostas a protesto-boicote no Minipreço

  1. subcarvalho diz:

    porque esrá que não estou nada admirado com a reacção do sindicato?…estou à espera, nesta tasca, dos defensores incondicionais dos sindicatos para me tentarem explicar isto!!

    • Rocha diz:

      Não cabe a mim explicar isto, os sindicatos não precisam de defensores nenhuns e sabem defender-se a eles próprios. Mas posso garantir que este documento é uma falsificação e uma usurpação, quem o fez não tem nem autoridade nem legitimidade para fazê-lo.

      • Pete Law diz:

        haha

        essa é boa

        rocha, vai para o carvalho.

        nem és digno de outra coisa

      • miguel serras pereira diz:

        Rocha, se o documento é uma falsificação e uma usurpação, como qualquer democrata desejaria que fosse, é necessário demonstrá-lo mais cabalmente, explicar como e porquê, desmascarar os falsificadores. Caso contrário, o mais verosímil será concluir que o sindicato reprovou efectivamente a acção por não ter sido lançada pelos seus responsáveis, por ter sido iniciativa de uma movimentação “inorgânica” (apesar de notavelmente bem organizada), por ter sido protagonizada à margem das directivas do sindicato por elementos “duvidosos” (“social-democratas” do BE, anarco-sindicalistas, anónimos vários, que terão iludido a boa-fé dos trabalhadores sindicalizados que participaram no protesto, arrastando-os para uma atitude de indisciplina…).
        Gostaria de deixar claro que não ponho em dúvida a sua boa-fé, e que penso que V. acredita no que escreve. No entanto, o meu ponto é outro: não basta a sinceridade da sua convicção, e é preciso, no mínimo, que o sindicato explique o que aconteceu e esclareça que nada tem a ver com o papel afixado que a Gui cita.

        msp

        • guicastrofelga diz:

          social democrata é a tua tia!!
          (o comunicado está em http://www.cesp1.net/ e foi mandado para o FB do CESP ontem à tarde.)

          • miguel serras pereira diz:

            Gui,
            a minha tia não é para aqui chamada. Quanto ao resto, escrevi “social-democratas” com aspas, para indicar justamente que o qualificativo não era meu, mas traduzia uma acusação que se ouve muitas vezes endereçada ao BE. Do mesmo modo que escrevi também “duvidosos” com aspas – para significar que, não considerando eu duvidosos os que participaram na acção, parece haver gente que os considera assim, como considera duvidoso ou pior tudo o que se mexe por iniciativa prórpia. Estamos entendidos? Mas confesso que sinto dificuldade em compreender que V. não tenha intuído que o meu comentário se destinava a reforçar a pertinência da interrogação que conclui o seu post: “mas como é que uma estrutura política chega à conclusão que é preciso não só distanciar-se como REPUDIAR uma acção de solidariedade e boicote de consumo (e muitos vizinhos há, ali, solidários com os trabalhadores, pelo que se viu) contra as consequências de abuso sobre os trabalhadores, por conta de uma greve que os próprios sindicatos convocaram? uniquê?”…

            msp

          • guicastrofelga diz:

            ui, eu tava a brincar com a da tia, desculpa. eu percebi tudo o que querias dizer, estava só a fazer uma piadinha que claramente se perdeu algures nas máquinas entre nós. kind regards

          • miguel serras pereira diz:

            OK, Gui. Sans rancune. Salut
            msp

          • Rocha diz:

            Para o Miguel Serras Pereira, para a Gui e para toda a gente que participou no justo protesto de solidariedade com os trabalhadores do Minipreço, aqui fica a reposição da verdade:
            – Comunicado aos clientes da loja Dia/Minipreço de Miguel Bombarda (Porto) em
            http://www.cesp1.net/not%C3%ADcias/#143
            Onde se pode ler: “A direcção Regional do Porto do CESP, distribuiu ontem um comunicado à porta da loja Dia/Minipreço de Miguel Bombardado (Porto), onde foi dada ordem de transferência a 4 trabalhadores que fizeram a greve geral de 27 de Junho, agradecendo a solidariedade de clientes e amigos e dando nota de que já está marcada uma reunião com a empresa para discutir este assunto.” (…)

            E para os autores da pulhice uma resposta também: what goes around comes around.

  2. A cor do fax só podia mesmo ser amarelo.

  3. Antónimo diz:

    o mínimo a esperar era que a cgtp ficasse solidária com quem acabaou prejudicado por aderir à greve que convocou, não?

    • eu diz:

      vai-lhe pagar o dia perdido, com o que recebem do orçamento do estado, das quotas e das formações profissionais…..

      • Antónimo diz:

        se recebessem dinheiro do orçamento de Estado (o que já desmentiram) era para o lado para onde dormia melhor. Merecem bem mais que a quadrilha dos bancos que nos atira os défices e a dívida para onde atira.

        • Miguel diz:

          Parece que falhou a pontaria contra a CGTP. Há que tentar uma próxima vez. Se calhar, apoiando a culatra ao ombro poderia ajudar… mas vê-se que a arma é fraca.

          • Antónimo diz:

            Olha, menino, além de malcriado, rato de esgoto é a tua tia, não sabes ler, decididamente, ou então não sabes acertar no sítio das respostas. não comento no 5 dias há três semanas para de repente isto se encher de gente armada em cão com pulgas e a tresler o que os outros dizem. Vai ao histórico.

  4. RAA diz:

    excelente post!

  5. O. diz:

    “surgiu desidentificado e sem uma linguagem colada a nenhum dos cantos das nossas esquinosas esquerdas” – é preciso nunca ter lido a mais famosa (e posteriormente renegada?) trilogia de Jorge Amado. o que é lamentável, mas tem solução.

  6. Luís Cravo diz:

    O que nenhum dos que foi ao protesto fez foi perguntar aos trabalhadores o que é que eles, que fizeram greve, deram a cara e sofreram as represálias, queria fazer!

    • anjinho de purezinha diz:

      pois foi!
      e o que esses trabalhadores queriam, está bom de ver, era repudiar esta acção de solidariedade para com eles mesmos! isto é tudo gente humilde, que confia na vanguarda sindical com as suas tácticas de psicologia invertida, nas quais parece estar a dar força ao patrão e, na prática, a pôr em causa o direito á greve, só para no ultimo momento virar o jogo e… virar o jogo e quê, Luis Cravo?

      • Luís Cravo diz:

        Não, são gente que quer tomar as rédias da sua vida, e que faz a sua luta sem que outros lá vão dizer-lhes o que fazer, que devem boicotar ou fazer queixa. É gente, que fez greve, que discute propostas e que sabe que a luta não terminou ali e que sabe que a sua luta para continuarem a trabalhar ali não se ganha por boicotes.
        Não se precisa ser muito inteligente para perceber que se o boicote acontecesse de facto e ninguém mais fosse ao minipreço, esses trabalhadores perdiam o trabalho. Não se precisa ser extraordinariamente inteligente, ao ponto de até eu perceber, que se os trabalhadores do minipreço forem discutir com o patrão aumentos salariais, redução de horários, ou qualquer outra coisa, a primeira resposta para não haver nada disso, é que um dia vieram para aqui estragar.
        Agora, vai conversar com estes trabalhadores, e ouve o que eles dizem…
        Um abraço

  7. João. diz:

    Para os “revolucionários” metafísicos como o autor do post e alguns comentadores não há resistência da realidade – é sempre a avançar.

    Vocês, da esquerda metafísica, por acaso, perguntaram aos trabalhadores em concreto da empresa se estão ou não de acordo com o comunicado?

    Aposto que não. É que se calhar aquele comunicado pode ser expressão da vontade dos trabalhadores em concreto.

    Em tempo de desemprego em massa a vossa solução seria boicotar uma empresa e lançar mais trabalhadores no desemprego sem, contudo, serem capazes de apresentar alguma alternativa de acção – até porque para alguns que aqui comentam, como o pessoal que escreve no Vias de Facto, a acção tem de ser concertada com todos os demais trabalhadores da europa, do mundo, do universo até, caso se descubra vida em outros planetas.

    Há muito esquerdismo parasita, que não sem onde caír morto em termos políticos e que, portanto, aparece colado a estas acções concretas de trabalhadores em suas empresas a promover-se arrotando postas de pescada pseudo-revolucionárias.

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