Maldição de Malinche: os defensores do projecto europeu que se dizem de esquerda

Enquanto escuto a mexicana Amparo Ochoa, recordo o entusiasmo sincero de uns e oportunista de outros quando os índios zapatistas se levantaram em armas em Chiapas. Foi a 1 de Janeiro de 1994 e, desde então, não mais cessou a romaria política àquela região da América do Norte. Os mesmos que alimentavam o eurocomunismo e abriam as portas à União Europeia desfaziam-se em simpatias por aqueles rebeldes que subcomandados por Marcos se sublevaram no mesmo dia em que entrava em vigor o Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos e o Canadá.

Os netos de Emiliano Zapata revoltavam-se contra as imposições do Estado mexicano à realidade própria dos indígenas, rejeitavam a submissão económica aos vizinhos do norte e exigiam uma democracia participativa. Caminhavam em sentido contrário àqueles que do outro lado do Atlântico pouca ou nenhuma oposição levantavam à construção de uma Europa submetida ao directório político e económico das grandes potências. Estes estavam contaminados por Malinche.

Maldición de Malinche

Em 1519, um dos líderes indígenas oferece vinte escravas, algumas peças em ouro e um conjunto de tecidos ao espanhol Cortés. Uma das escravas, Malinche, tornou-se numa peça importante na ocupação do México. Para além de intérprete, ajudou os espanhóis a obter informações sobre os costumes sociais e os hábitos militares dos nativos. Terá também realizado tarefas de inteligência a favor dos colonizadores. A canção eternizada por Amparo Ochoa, Maldición de Malinche, fala dos que em pleno século XX humilham o nativo e abrem os braços ao estrangeiro.

Hoy en pleno siglo 20/ nos siguen llegando rubios/ y les abrimos la casa/ y los llamamos amigos. Pero si llega cansado/ un indio de andar la sierra/ lo humillamos y lo vemos/ como extraño por su tierra. Tu/ hipócrita que te muestras/ humilde ante el extranjero/ pero te vuelves soberbio/ con tus hermanos del pueblo. Oh/ maldición de malinche/ enfermedad del presente/ cuando dejaras mi tierra/ cuando harás libre a mi gente.

A esquerda europeísta

Em nome de um suposto internacionalismo, há quem na blogosfera cuspa que os que lutam contra a União Europeia e o euro não estão mais do que contaminados pela deriva nacionalista e que servem – ainda  que não o saibam – um futuro nacional-socialismo. Estes, que se atrevem a pôr em causa a luta anti-imperialista de outros povos, como por exemplo, o papel de Hugo Chávez na construção de uma alternativa política na América Latina, não fazem mais do que reforçar o projecto das grandes potências capitalistas. Defender a União Europeia a toda o custo é defender um instrumento que não teve e não tem outro objectivo que o de garantir e reforçar o poder político e económico das potências do norte da Europa.

Não se trata aqui de defender uma guerra entre o norte e o sul. Trata-se de defender a luta dos trabalhadores do sul pela defesa da sua soberania económica e política. Os destinos dos que trabalham em Portugal devem ser determinados por eles próprios. Não devem ser determinados pela burguesia portuguesa e muito menos pela alemã. Também os destinos dos que trabalham na Alemanha devem ser determinados por eles próprios. Senão for assim continuaremos a ser colonizados por uma estrutura que tem sido o eixo central da desgraça que nos acompanha há três décadas.

Há gente que diz: pois, bem, então, que se juntem os povos e que tomem o poder na União Europeia. Esta é a perspectiva clássica dos que acham que enquanto não estivermos todos em condições de fazer a revolução e de conquistar o socialismo devemos esperar. Ou seja, devem esperar por um conjunto de condições que muito dificilmente se darão simultâneamente entre tantos povos com características, histórias, condições objectivas e subjectivas, em cada momento, distintos. Os sábios europeístas acham que só quando todos marcharmos juntos é que podemos partir para a revolução, mesmo que alguns já as venham a ter antes de outros e mesmo que esses acabem por perder a oportunidade de pôr fim à miséria porque outros não o puderam fazer.

Estes são os que idolatram tudo o que vem de fora. Rejeitam soluções nacionais em nome de um continente sem fronteiras ao mesmo tempo que submetem cada povo a uma lógica supranacional de luta que parte do topo para a base. É esta a maldição de Malinche de um género que se diz de esquerda e que se sente superior em relação aos trabalhadores e aos povos. Que pertence às ideias mais em voga na esquerda moderna europeia – tão velhas como o eurocomunismo – e que esquece que está colonizado por correntes políticas que são alimentadas e toleradas pela ideologia dominante. A ingenuidade tem limites e da mesma forma que as fronteiras da União Europeia não foram derrubadas para beneficiar os trabalhadores também a luta pela libertação económica e política de cada povo não serve os interesses do capital.

Durante a longa noite fascista, havia quem entendesse que Portugal só se libertaria do jugo salazarista depois da queda do franquismo. Ficava nas mãos dos povos oprimidos por Franco o destino do povo português. Não foi assim. Também agora, devemos criar as condições para que os trabalhadores assumam nas suas mãos as rédeas do futuro. Independentemente da fundamental solidariedade entre quem trabalha em diferentes países, a batalha, em cada sítio, pela derrota do projecto capitalista europeu é a melhor forma de ajudar a luta de outros povos. Os trabalhadores alemães terão tudo a ganhar com a vitória dos trabalhadores portugueses. Os trabalhadores franceses terão tudo a ganhar com a vitória dos trabalhadores gregos.

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46 respostas a Maldição de Malinche: os defensores do projecto europeu que se dizem de esquerda

  1. Sim, cada país, e cada povo deve lutar a seu tempo, e combater os seus ditadores, embora neste momento exista uma união europeia que comanda. Mas ainda assim como dizes não podemos esperar pelos outros, nem os outros por nós. Quanto aos tais eurocomunistas, ou esquerdistas, ou canalhas como se quiser chamar, basicamente são nazis com um nome de esquerda. Pois são estes gajos que têm ido mais longe nas políticas de extrema direita impostas pelos governos nos vários países, e se não são eles a impor essas políticas, medidas, apoiam-nas descaradamente, ou pela calada, ou simplesmente pelo nim. E esses canalhas têm força precisamente pela falta de informação, de cultura, e de envolvimento e participação das pessoas. Mas tem que se lutar contra isso, oh se tem.

  2. miguel serras pereira diz:

    “Os trabalhadores alemães terão tudo a ganhar com a vitória dos trabalhadores portugueses. Os trabalhadores franceses terão tudo a ganhar com a vitória dos trabalhadores gregos”. De acordo. Mas nãõ custa nada acrescentar que os trabalhadores de cada um dos países referidos vencerão mais e melhor se souberem pôr de lado as fronteiras que os dividem e derrotar as soberanias rivais que os tolhem e subordinam.

    msp

    • Bruno Carvalho diz:

      As fronteiras que nos dividem seremos nós a derrubá-las e não a União Europeia.

      • miguel serras pereira diz:

        Sem dúvida. Mas não me parece que a via mais prometedora para o efeito seja reforçar as existentes.

        msp

        • Argala diz:

          MSP,

          A saída da UE não é nenhum reforço de barreiras entre o proletariado. É Justamente o contrário. É o desmembramento da UE, onde quer que ela rompa primeiro, que abre o espaço necessário para furar o cerco imperialista sobre o mundo do trabalho.
          É a União Europeia que divide os trabalhadores, ao desindustrializar a periferia, industrializar as potências do directório e ao mesmo tempo semear a ideia nos trabalhadores do centro que a sua prosperidade é tolhida pela preguiça de um bando de mandriões que vivem espojados na praia e não gostam de trabalhar.

          Agora, estou de acordo que sair da UE é necessário, mas claramente insuficiente. É na UE que a nossa burguesia se estruturou. Desta forma, ela é um peso morto, despiciendo, não serve para nada. A nossa burguesia abdicou de produzir e de deixar produzir, não fode nem sai de cima. É um estorvo para o avanço das forças produtivas. E como tal, tem de ser eliminada enquanto classe.
          Terão de ser os trabalhadores a assumir o controlo do seu destino, a tomar o controlo das empresas e a criar de raiz aquelas que foram destruídas por esta ruinosa integração.

          Cumprimentos

          • Rocha diz:

            Subscrevo inteiramente o que diz o Argala. As grandes asneiras do chamado “europeísmo de esquerda” são confundir internacionalismo com imperialismo, julgar que o capitalismo une quando realmente divide e escamotear/esquecer que o capitalismo já atingiu (há muitas muitas décadas) o seu auge de desenvolvimento progressivo das forças produtivas e está em plena espiral regressiva (decadência e declínio).

            E a propósito da questão da UE/Euro recordo também a questão espanhola. Outro dia li um comentário (num blog do Estado Espanhol) que defendia uma federação espanhola composta por nações totalmente livres. Isto é uma federação construída sob a total liberdade de adesão e de saída no território hoje chamado de Espanha. Mas tal coisa não passa pela cabeça dos nossos “europeístas de esquerda”. É a vontade dos povos e a emancipação dos trabalhadores que realmente nos pode libertar dos muros que nos dividem. A união só se constrói a partir do respeito e da solidariedade entre povos.

    • Caxineiro diz:

      MSP Portugal não é a Alemanha e a França não é Chipre
      experimente vir com essa conversa da revolução global a um operário com consciencia de quanto tem sido espoliado do seu salário real, com consciencia da sua miséria; a um operário que até o tempo duma mijadela durante o período de trabalho vê descontado no seu salário.
      Fico com a ideia de que nunca se aproximou sequer do mundo do trabalho. É um romantico. Só não faço a revolução HOJE porque somos poucos ainda, o mêdo da miséria total ainda nos vai segurando a raiva porque a consciencia de que só a revolução pode transformar esta merda numa sociedade mais justa já a temos há muito tempo. Sem pedir licença a ninguem, sem querermos saber o que Marx conversou com Engls acerca de Dhuring, ou dos discursos de Mao às massas

      Uma revolução vitoriosa num qualquer país pode até estimular os trabalhadores doutro país a seguir o exemplo

      • miguel serras pereira diz:

        “Portugal não é a Alemanha e a França não é Chipre” – pois não. Mas a enorme maioria dos alemães, dos franceses, dos cipriotras, dos portugueses, etc., têm um inimigo, um expropriador comum nos aparelhos dirigentes da UE. As condições da emancipação são também comuns. A causa a defender é, não nacional, mas social – e comum.

        msp

  3. De diz:

    Um excelente texto.Excelente

  4. Dédé diz:

    MSP, sejam então bem vindas as manifestações e lutas dos trabalhadores alemães contra a austeridade em Portugal e na Grécia. Que só virão, se vierem, porque os trabalhadores gregos e portugueses não têm aceite, nem aceitarão, passivamente a expropriação austeritária.

    • miguel serras pereira diz:

      Assino por baixo, Dédé. Que a coordenação ou federação da luta contra o governo oligárquico da UE reforce e reafirme a causa comum.

      msp

      • Bruno Carvalho diz:

        Assine o que quiser. Os trabalhadores de cada país devem ser os donos do seu próprio destino e romper unilateralmente, se assim entenderem, com a União Europeia e o euro.

        • miguel serras pereira diz:

          Bruno Carvalho e tutti quanti,

          eu não me oponho menos à política que governa a actual UE do que você ou qualquer outro dos que aqui saem em defesa dos mesmos pontos de vista. O que se passa é que penso que a ruptura com o euro e a aposta na implosão da UE não é a única nem a melhor maneira de combater essa política. Os cidadãos comuns dos diveros países da UE e da ZE têm adversários comuns e interesses comuns, e devem antes fazer causa comum, impondo, através de uma acção política e reivindicativba democraticamente articulada e organizada, mudanças de funcionamento, ao mesmo tempo mais federais e mais democráticas. Fazendo causa comum serão mais fortes contra os inimigos comuns, e defenderão melhor as suas reivindicações “anti-austeritárias” imediatas. Tanto mais que, como escreve o meu camarada de blogue Miguel Madeira, “uma eventual saída do euro não é uma alternativa à austeridade; é uma diferente maneira de fazer austeridade (aliás, nos países com moeda própria a desvalorização faz parte da receita padrão das intervenções do FMI – veja-se a nossa austeridade de 83-85)” (cf. http://viasfacto.blogspot.pt/2013/03/ainda-sobre-saida-do-euro.html). Assim, o “europeísmo” de que me acusam é, afinal, o que considero a opção por um anti-austeritarismo realista e consequente, que procura dar-se os meios efectivos dos objectivos que declara. Nada mais.

          msp

  5. João Pedro diz:

    O msp, o jva, o passapalavra… parece que cabem nessa definição (os que sendo de direita dizem ser de esquerda)

    • Bruno Carvalho diz:

      Cabem.

      • miguel serras pereira diz:

        Olhe, Bruno Carvalho, definição por definição, deixe-me deixar claro de uma vez por todas que, entendendo por democracia o exercício do poder pelos trabalhadores e conjunto dos cidadãos comuns, entendo também que a democracia me define como anticapitalista. E, ao mesmo tempo, que a democracia – ou democratização das relações de poder classistas – é condição necessária do anticapitalismo. Mas os concursos em que cada um tenta mostrar que é mais de esquerda que todos os outros interessam-me pouco, e creio que acabam por funcionar como cortinas de fumo. É que, como escrevi há tempos numa caixa de comentários de outro post deste mesmo blogue e, a seguir no Vias, “para ser anticapitalista a luta tem de começar por ser democrática (tanto nos seus objectivos como na sua organização, ou regime que instaura), e que o grau de anticapitalismo de um movimento se mede pela democratização que instaura por onde passa e está, a começar pelas suas próprias fileiras” (Cf. http://viasfacto.blogspot.pt/2012/12/o-anticapitalismo-e-o-criterio-da.html). E esta resposta vale também para o João Pedro.

        msp

        • De diz:

          MSP tem por vezes alguma dificuldade em perceber o que está em causa ou em discussão.E tenta arranjar ramalhetes de flores, velho método que o personagem em causa utiliza, desconversando e fugindo sempre que o terreno lhe foge
          .Refugia-se em concursos em que cada um tenta mostrar que é mais isto ou aquilo.Deriva de um concurso do “mais ou menos à esquerda” ( quem lhe disse a ele que isto é um concurso?) para cortinas de fumo sobre anticapitalismo e democracia e nessa coisa notável que é um medidor do grau de anticapitalismo.
          Será a contribuição de MSP para a doutrinação geral.Pensa-se até que procurará tirar a patente de tão grande contributo “intelectual”.

          O que está aqui em causa é uma outra coisa, sumamente desagradável para as posições doutrinárias de MSP.O que este texto diz de forma clara e frontal é a acusação fundamentada que uns tantos: “rejeitam soluções nacionais em nome de um continente sem fronteiras ao mesmo tempo que submetem cada povo a uma lógica supranacional de luta que parte do topo para a base”.
          MSP é um dos que concretamente defende que”enquanto não estivermos todos em condições de fazer a revolução e de conquistar o socialismo devemos esperar.”
          Para esconder a sua vacuidade no terreno, inventa um novo medidor de pureza revolucionária quero dizer anticapitalista. Já teve outras “invenções” curiosas como a defesa de um “referendo tendo em vista a aprovação da eleição uma assembleia constituinte de uma nova União Europeia efectivamente federal” ou a de “uma República Ibérica que reclamasse pelo exemplo a democratização da União Europeia”.
          (Gosto sobretudo deste “pelo exemplo”)

          As fronteiras a derrubar serão os trabalhadores a fazê-lo e é pura demagogia pretender que a luta pela emancipação popular reforce as ditas fronteiras existentes.Tal como é demagogia barata falar no “inimigo comum,no expropriador comum nos aparelhos dirigentes da UE” ,”nas condições comuns da emancipação (???)” esquecendo-se de ” um conjunto de condições que muito dificilmente se darão simultâneamente entre tantos povos com características, histórias, condições objectivas e subjectivas, em cada momento, distintos.”
          Tal como é simplesmente redutor essa luta geral contra “o governo oligárquico da UE” como se este fosse apenas o Mal a derrubar.O umbigo “internacionalista” de alguns tem destas coisas.Fala-se num projecto internacionalista para.a Europa mas esquece-se que a Europa não é o Mundo.
          O umbigo individual por sua vez também tem destas coisas.Não querer que a Luta avance sem o alto patrocínio da federação ou da coordenação internacional…a instituir ainda pois claro, e só depois de passar pelo crivo apertado do tal medidor do teor anticapitalista, essa tão notável contribuição de MSP para o actual debate de ideias.

          • anjinho diz:

            Este msp ,é um clone do pacheco pereira.Não tenho pachorra nenhuma,nem pejo em o dizer,vox populi,é um bate punhetas que,qdo o poder da oligarquia o comprar, a retórica vira 180º!!!!Já vi este filme vezes de mais!Da-se!

  6. João. diz:

    Miguel,

    Ser anti-capitalista é tão vago que acaba por não assentar em coisa nenhuma. É preciso decidir, escolher, separar, apostar, em partes concretas do capitalismo que representem o capitalismo como um todo e trabalhar sobre essas partes.

    Eu já percebi qual é para você a parte do capitalismo que representa por excelência o capitalismo como um todo, aquilo em que você mais insiste: a existência de países. O que é evidente, porém, é que os países não foram uma invenção dos capitalistas; Camões já fala na “ditosa pátria minha amada”; é por isso que a meu ver o vosso projecto não oferece mais nada do que deixar as estruturas dominantes do capitalismo – a banca, a finança, as oligarquias da petróleo, do armamento, dos medicamentos, etc – em paz para circular à vontade sobre os países que sem protecção acabarão por ficar dispostos à vontade e ao arbítrio destes tubarões.

    Um país que consiga o mais possível sustentar-se a si mesmo é um país menos dependente dos demais e portanto com maior capacidade quer de negociação com outros países, mesmo ao nível de organizações de trabalhadores, quer de resistência à invasão de parasitas externos (falo do grande capital financeiro). Naturalmente que continuarão a existir contradições internas mas a questão é que o povo português tenha a maior capacidade possível de resolver os seus problemas internamente sem estar a apelar para burocratas europeus ou para o dinheiro dos contribuintes alemães; no fundo trata-se de tentar que Portugal não se torne um parasita na Europa, um pedinte de subsídios que, naturalmente, mesmo numa europa federal virão com exigências que correspondam ao interesse de quem coloca mais recursos no orçamento da putativa federação.

  7. Carlos Carapeto diz:

    Há uma afirmação do MSP que me deixou intrigado senão mesmo muito confuso.
    O que será que pensa um anticapitalista de esquerda da estatura dele fazer aos capitalistas e ao poder que detêm, depois de conquistar o poder?

    O busílis da questão é esse mesmo, como vão conseguir transformar a sociedade sem alterar profundamente o sistema e “liquidar” os interesses que o sustentam?

    A não ser que seja do género ora agora mando eu, ora agora mandas tu, e assim continua-mos per sécula seculórum a viver neste embuste.

    A rutura quando tiver que acontecer, para ter futuro tem que ser total.

    • miguel serras pereira diz:

      Carlos Carapeto,
      para a sua pergunta, há uma resposta clássica e que, a meu ver, permanece válida: a expropriação dos expropriadores. O que significa o exercício do poder pelo conjunto dos cidadãos comuns organizados e a expropriação dos “representantes” profissionais, digam-se ou não de “vanguarda” – bem como, evidentemente, a gestão democrática da actividade económica (a nível macro e micro) e a sua devolução ao espaço público democrático. Não se trata de mudar de governantes, alternando ora uns, ora outros. Trata-se de fazer cair desde o princípio a distinção classista entre governantes e governados.
      Agradeço que me tenha dado esta oportunidade de o precisar.

      msp

  8. Nuno Cardoso da Silva diz:

    Não me meto em discussões mais ou menos exotéricas, mas gostaria de chamar a atenção para o facto das identidades dos povos se não esgotarem na identidade nacional. Hoje ainda parece que assim é, e por isso o modelo da União Europeia está a desmoronar-se, mas é possível criar uma ordem política e económica que não se esgote no estado-nação. Todos nós reconhecemos que temos uma identidade familiar, local, regional e nacional, em que nenhuma delas contraria essencialmente as outras. O que ainda não conseguimos fazer, em liberdade, é estender essa identidade a um patamar superior, que poderia ser o continental. Sou membro da minha família, da minha aldeia, do meu concelho, da minha província, da minha região e do meu país, mas ainda não me sinto europeu com uma obrigação de solidariedade para com os outros europeus. Mas isso não significa que sou traidor se procurar construir essa identidade europeia e uma ordem económica, política e social europeia.

    • De diz:

      Uma espécie de Europa uber alles

      Há aqui qualquer coisa que escapa.E isto não tem nada a ver com traições.Nem com discussões mais ou menos exotéricas

      • Nuno Cardoso da Silva diz:

        Não é uma Europa über alles. É apenas o degrau seguinte de uma escada que tem ainda outros degraus.

        • De diz:

          Ora se pensar um pouco vai ver que também é disso que estamos a falar

        • João. diz:

          É uma questão de estratégia. Qual é a opção mais real: que os países mais fortes cedam poder e riqueza sua para favorecer os países mais frágeis ou que os países mais fortes aproveitem a fragilidade dos outros para consolidar o seu poder e domínio? Qual é a sua aposta? Eu sei qual é a minha – realpolitik diz-se primeiro em alemão.

          • Nuno Cardoso da Silva diz:

            O que não significa que oe europeus – e sobretudo os europeus de esquerda – não se esforcem por criar uma dinâmica de solidariedade e de unidade na Europa, até para melhor contrariar a actual hegemonia americana e a futura hegemonia chinesa. Sem sermos ingénuos, mas de forma esclarecida e persistente. E destruir tudo o que se fez na Europa para começar do zero pode não ser a melhor estratégia.

          • De diz:

            Ou seja…parece que a identidade dos povos não se esgota na identidade nacional mas acaba nas fronteiras continentais.
            Pode-se perguntar se ainda respeitando as fronteiras da Laurásia…
            🙂

          • Nuno Cardoso da Silva diz:

            De,
            A identidade esgota-se onde se esgotar, em cada momento. Já foi a nível do clan e da tribo e agora parece ainda ser a nível da nação. Isso não se altera por decreto, evolui. Evoluirá na Europa para o nível continental, ou talvez só para o nível mediterrânico, e se não convém ser-se a este propósito demasiado vanguardista, também não convém ser-se demasiado reaccionário. E ser dogmático, como de costume, não leva a nada de bom. É assim tão difícil manter a mente aberta?…

          • De diz:

            Ahahaha
            Desculpe,foi sem querer.
            Você não percebe mesmo pois não?
            A crítica implícita (agora passa a ser explicita) é aos que se tingem com parangonas pro-unidade europeia afirmando e com razão que “os cidadãos comuns dos diversos países da UE e da ZE têm adversários comuns e interesses comuns”
            Tal COMO e COM os cidadãos de OUTROS continentes.
            Para quem está tão preocupado com federações, (a luta é de facto entre explorados e exploradores), não se percebe muito bem porque motivo tal luta “federada” há-de cingir-se à escala europeia.
            De cada um de acordo com as suas possibilidades (de luta), todos a alimentar o caudal da criação de um mundo melhor,de forma a que de facto a exploração acabe à superfície da terra.

            Não é muito difícil de perceber pois não? Basta ter a mente aberta
            🙂

          • Nuno Cardoso da Silva diz:

            “…não se percebe muito bem porque motivo tal luta “federada” há-de cingir-se à escala europeia…”

            Não se “cinge”. É uma etapa que tem de ser percorrida antes de podermos avançar para outras. E vê lá se encontras a solidariedade dos trabalhadores a nível continental, extracontinental, ou mesmo nacional. Os explorados num país são exploradores relativamente aos explorados de outros países, sem quaisquer preocupações classistas, marxistas ou leninistas. Tu é que julgas lá porque a tua cartilha proclama a unidade dos proletários de todo o mundo que isso está mesmo para acontecer. No confronto entre o trabalhador alemão e o trabalhador português, não são ambos trabalhadores com os mesmos interesses. Um é alemão e tenta lixar o português, sempre que puder. Diga o Marx o que disser.

        • De diz:

          Stop.
          Leia o que você próprio disse.
          E depois se necessário peça para lhe explicarem o que disse
          🙂

  9. Bento diz:

    De acordo com MSP ainda hoje Lenin e o partido bolchevique deveriam estar à espera para fazer a Revolucao de 17.

    • miguel serras pereira diz:

      Bento,
      se ler com um bocado de atenção o que eu escrevo, perceberá que digo que a luta contra o inimigo comum e por objectivos comuns deverá orientar-se para uma federação e não para a restauração das soberanis nacionais. Nunca disse que deveríamos esperar pelo resultado da luta – federação – para começar a lutar.

      msp

      • De diz:

        E aos costumes disse nada.No caso vertente não altera uma ponta e vírgula o que aqui se disse
        Parece que o resultado da luta é o da federação (!).
        Mas magnânimo concede que poderemos começar a lutar até que o resultado da luta surja.
        (gosto deste “começar a lutar”)

        Agora em filinha pirilau para as necessárias autorizações.

  10. JgMenos diz:

    Discussão interessantíssima montada numa inexistente independência económica, em que cada um por si determina o seu destino.
    O capitalismo tomou-vos o internacionalismo e serviu-vos uma globalização que mandou para esse gueto que é a Coreia do Norte o reduto último desse socialismo esclerosado que guardais com tanto carinho!
    Arrogantemente ausentes dos caminhos lúcidos de partilha da riqueza, ocultam essa vossa incompetência chamando maldição aos caminhos de Malinche, que sempre se podem traduzir pela adesão ao que promete progresso, bem-estar ou simplesmente domínio.

    • anjinho diz:

      as minhas sinceras admirações aos sus admirados bandidos dias loureiro e toda a escumalhaa do psd,incluindo os pedófilos(as minhas condolências pelo inginheiro,caralho,eurico de melo…Vai-te foder!Não se esqueçam de Bagdad,Tripoli,Alepo,está bem?…………….

    • De diz:

      Mais uma vez Menos intervém numa discussão “interessantíssima” montado na inevitabilidade das coisas.
      Fala que o capitalismo tomou-nos ( a nós?o coitado ensandeceu) o internacionalismo naquela confusão de conceitos em que Menos é dotado (sabe-se lá com que intenções).
      Confundir internacionalismo com globalização tem destas coisas e acaba inevitavelmente por gerar disparates como o invocar o santo nome da Coreia do Norte para esconder a frustração maior do Menos.
      Menos apaga de uma assentada os países que estão a seguir outros caminhos que não os decididos pelo império. Esclerosado guarda com peculiar carinho o nome da Coreia,porque o seu breviário a isso o aconselha.Apaga mesmo da memória as suas ruminações (dele,Menos) contra os países que colocaram e colocam em causa o modelo económico do Capital.
      Percebe-se que esteja inquieto.O capitalismo só oferece nos dias que correm miséria,exploração ,desemprego,desigualdade,fome, sofrimento.A questão nova é que tais oferendas do Capital já não são só sentidas pelos povos longínquos do terceiro mundo, mas por nós próprios,europeus da periferia,nós portugueses que assistimos aquilo que Menos se esforça por catalogar como “progresso”e “bem-estar” .Não vale a pena falar no “domínio” porque só cobardes aceitam passivamente o domínio alheio

      Mas há mais para responder aos termos arrogantes do incompetente Menos .Façamos aquilo que o pobre coitado tem mais medo.Atiremos-lhe à cara a realidade que o coitado se esforça por ocultar.A tal “partilha da riqueza” que é hoje servida pelos neoliberais e pelos saudosos salazaristas:
      “Os dados agora divulgados pelo INE, um défice orçamental de 6,4% em 2012, quando a previsão do Governo inscrita no Orçamento de Estado para 2012 era de 4,5% e uma Dívida Pública de 123,6% em 2012, em vez dos 110,5% previstos no OE para 2012, confirmam aquilo que há muito vimos afirmando: os cortes nos salários, pensões e apoios sociais, nas despesas com saúde e com educação e o enorme aumento da carga fiscal sobre os trabalhadores e o povo, nomeadamente IRS e IVA, não só não resolveram os problemas do défice e da dívida, como pelo contrário contribuíram para aprofundar a recessão em que a nossa economia se vai afundando, com uma quebra acumulada no PIB desde a assinatura do Pacto de Agressão de 5,7%.
      Só entre 2011 e 2012, de acordo com estes dados agora divulgados pelo INE, o défice público aumentou em 3 053 milhões de euros e a dívida pública em 19 244,3 milhões de euros, ao mesmo tempo que o Investimento Público caíu 31% e as despesas com pessoal na Administração Pública caíram 16,1%”

      Há mais.Para servir posteriormente.

      • JgMenos diz:

        Eu não demonstraria melhor o quanto se deve à esta Republica Portuguesa que vai comemorar pela 39º vez a arrancada ‘a caminho do socialismo’.
        Cedo apuraram todos os oportunistas de todas as cores que havia tudo a ganhar em manter alguns rótulos, dar muitos empregos de Estado, e direitos e garantias sortidos.
        E ao longo desses anos, refinaram o bastante para enfrentarem a miséria geral com a olímpica tranquilidade de quem cumpriu um dever histórico.

        • De diz:

          Há qualquer coisa de salazarento neste discurso.De alguém derrotado em Abril de 74 e que espera uma oportunidade para se vingar do acontecido?
          Nada de novo no horizonte.Quem nos governa são os mesmos grupos e famílias que nos governavam antes do 25 de Abril sob a batuta da cambada neoliberal chegada ao poder, de mãos dadas com outros salazarentos personagens.
          Há mais de 35 anos governados pela direita e este Menos ainda tenta esconjurar o socialismo desta forma patética.Não se lembra que o herói da direita na altura, o dr Mário Soares fechou a coisa numa gaveta?
          Confirma-se assim o falhanço desta política ao serviço dos grandes grupos económicos.A miséria como presente e agravada pelas posições cada vez mais à direita da canalha que nos governa.A tal olímpica tranquilidade mais não é do que o desprezo do capital perante os explorados.A troika serviu de pretexto para o ajuste de contas interno.A troika por sua vez chupou e chupa o sangue fresco para seu exclusivo proveito

          Mais números para se aquilatar bem do descalabro económico e social:
          “Em três anos de governo PSD/CDS e de “troika”, ou seja, entre 2011 e 2013, a taxa oficial de desemprego aumentará de 12,4% para 18,9% (+351.900 desempregados), e a taxa real de desemprego que inclui os desempregados que não constam dos números oficiais de desemprego, subirá de 17,7% para 28,2% (+59,3%). No fim do ano de 2013, o desemprego oficial atingirá 1.040.800 portugueses, e o desemprego real, calculado com base em dados do INE, deverá atingir 1.641.000 portugueses. É um número assustador que, a continuar a actual política recessiva e destrutiva da economia aplicada em plena recessão, poderá ainda ser ultrapassado. Ele também revela a total inadequação da política que está a ser imposta ao país para reduzir o défice.

          Em três anos de “troika” e de governo PSD/CDS, o valor do PIB perdido devido ao desemprego varia entre 91.468 milhões € e 142.273 milhões €, conforme se considere o desemprego oficial ou o desemprego real. É um valor que oscila entre 55% e 85,5% do valor do PIB total de 2012. Estes números, embora indicativos, dão já uma ideia da dimensão da riqueza que é perdida devido ao elevado desemprego que resulta da política recessiva de destruição de emprego.

          No “Memorando” inicial de Maio de 2011 previa-se, para 2011, um défice de 5,9%, mas o défice real, sem medidas criativas, atingiu 7,4%. Se comparamos com o valor do défice real de 2010 – 9,6% – conclui-se que se verificou uma redução de 2,2 pontos percentuais. Para 2012, estava previsto no “Memorando” inicial um défice de 4,5%, na 6ª avaliação foi fixado um novo valor – 5% – mas o défice real, Gaspar, 6,4% o que significa, em relação ao défice real de 2011 (7,4%), uma redução de apenas 1 pontos percentuais.. Para os anos de 2013/2015, as previsões já sofreram várias alterações. Por ex., a previsão do défice orçamental para 2013, que era no “Memorando” inicial de 3%, na 7ª avaliação da “troika” realizada em Mar-2013 passou para 5,5%, portanto um desvio de +83,3%.
          Como consequência da política recessiva aplicada em plena recessão económica, entre 2010 e 2012, a divida pública aumentou mais 43.499 milhões € (+30%), e, em 2014, deverá atingir 215.213 milhões €, o que corresponde a 123,7% do PIB, ou seja, muito mais do que a riqueza criada no país durante todo um ano. E isto tem um elevado preço. Em 2011, o Estado gastou com juros e encargos 6.039,2 milhões €; em 2012, esse gasto subiu para 6.960,3 milhões € e, para 2013, estão previstos no Orçamento do Estado 7.276,3 milhões €. Em apenas três anos, o Estado português gastará com o pagamento de juros e encargos da divida 20.275,8 milhões €, ou seja, quase tanto como gastará com a educação dos portugueses que será 21.365,6 milhões €. Este aumento tão elevado quer da divida quer dos juros com a divida ainda é mais insustentável se se tiver presente que tem lugar num contexto da grave recessão em que o país está mergulhado.

          Os desvios que se verificam entre as previsões que serviram de base à elaboração do Orçamento do Estado de 2013 e as previsões que resultaram da 7ª avaliação da “troika” de Mar/2013 são enormes. A nível do PIB a quebra aumenta 130%; no consumo privado a diminuição sobe 59,1%; no investimento a quebra é 81% superior à prevista no OE-2013; a quebra na procura interna é 41,4% superior à prevista no OE-2013; a diminuição na taxa de crescimento das exportações atinge 77,8%, podendo dizer que elas vão praticamente estagnar em 2013; a destruição de emprego aumenta 129,4% relativamente à taxa prevista no OE-2013. É evidente que o cenário previsto pela 7ª avaliação da “troika” é muito diferente das previsões utilizadas na elaboração do OE 2013, podendo-se dizer, como foi dito por muitos economistas na altura, que o cenário macroeconómico do OE-2013 é fantasioso, revelando uma total incompreensão da realidade. A confirmar isso, está já o facto de que em Jan/2013 as receitas fiscais e as contribuições para a Segurança Social foram inferiores às de Jan/2012 em 82,8 milhões €.

          Face a tudo isto, é cada vez mais claro, que se a política da UE e a interna não mudarem radicalmente, Portugal não tem qualquer futuro na Zona Euro. O que aconteceu em Chipre, que para salvar a banca, se confisca uma parcela dos depósitos, é o sinal de uma UE sem valores e de governantes em que não se pode acreditar, que hoje dizem uma coisa e amanhã fazem outra.”
          Eugénio Rosa

          • JgMenos diz:

            Recordo-lhe a minha tese: …ausentes dos caminhos lúcidos de partilha da riqueza, ocultam essa vossa incompetência…
            É fácil de perceber, e está demonstrada.

          • De diz:

            Isso é uma tese?Vossemecê deve estar a brincar.
            A riqueza tem sido roubada por quem detém os meios de produção e concentrada nas mãos de uns quantos.
            “Os caminhos da riqueza” soa a qualquer coisa saída de uma má série americana,Ou ao “capitalismo popular” que Cavaco tentou vender quando ele arruinava a nossa agricultura, a nossa industria e as nossas pescas.

            Incompetência é apenas a palavra mágica usada por Menos para esconder o seu receio que o seu modelo de sociedade comece mesmo a ser posto em causa, dado o estado avançado de putrefacção que o capitalismo chegou.E que não seja apenas uma questão de “zanga e frustração”(palavras usadas por Menos para definir o sentimento popular) o que as pessoas começam de facto a sentir.
            Fácil de perceber.Quanto à demonstração basta ver Menos a arrastar-se e a consumir o seu tempo com “”a nossa inompetência”
            🙂

  11. João Pedro diz:

    Meu caro DE

    Arrasador, simplesmente…
    Não sei como é que o JG Menos se vai erguer do solo depois desta surra…
    A luta continua.

    João Pedro

  12. Argala diz:

    MSP e JVA,

    Por favor, acabem com os termos em que estão a encerrar este debate. Isto só serve para lançar a confusão.

    Um comunista, revolucionário, seja ele leninista ou não, não vai perder o seu precioso tempo a debater as virtudes desses dois tipos de sociedade capitalista: uma integrada na UE; outra fora.

    Há uma Revolução para preparar, deixem o sexo dos anjos e fechemos a merda do debate nos seguintes pontos:

    1. Queremos um país, uma península, uma Europa, um mundo socialista – o que só é possível por cima do cadáver deste projecto político nacional, europeu e imperialista em que nos inserimos.

    2. Não queremos apenas sair da UE, queremos destruí-la para benefício dos trabalhadores europeus, porque queremos uma Europa socialista.

    • JgMenos diz:

      Argala=Flaco=Defecto moral o afición predominante de una persona.
      Quanto mais fraco mais radical, só sobre ruínas se sentem capazes de construir!

  13. Carlos Carapeto diz:

    MSP !

    O seu comentário deixado lá para trás não me esclareceu e ainda menos me convenceu.

    Há um erro que a história já demonstrou variadíssimas vezes que não se deve cometer na luta de classes, e você conhece-o muito bem. É ser ingénuo ao ponto de acreditar na boa fé dos nossos inimigos.
    Suponhamos que baseados nos seus pressupostos desejos democráticos a esquerda conquista o poder em Portugal através de eleições (deduz-se nas suas palavras que não aceita outra forma de conquista do poder por o povo).

    A interrogação que se coloca a partir daí é. Como vai destituir a classe até aí dominante, “burguesia portanto” dos poderes que detém?
    Em função de que legislação vai implementar essa tal democracia participativa e popular de que fala?
    Mostra ser ingénuo ao ponto em acreditar que aqueles que eventualmente são destituídos dos seus poderes e dos seus domínios vão aceitar de bom grado e pacificamente essa tal transformação radical que propõe.
    Onde foi que tal aconteceu? Ó MSP por favor não seja utópico.

    Considero as suas opiniões muito enriquecedoras, no entanto por vezes afunda-se numa litania imperceptível quanto à formas e aos meios com que pretende alcançar essa tal democracia “perfeita” com que nos acena.

    Só podem ser fabulações da sua parte. Para ter sucesso na luta de classes não consegue fazer nada sem Marx.
    Se os grandes ideólogos do neoliberalismo continuam a orientar-se nos fundamentos herdados de Smith há mais de 2 seculos .
    E Vc pretende ultrapassar Marx?

    Os acontecimentos das ultimas duas décadas demonstraram que apenas o Marxismo oferece condições para construir uma sociedade mais justa e equilibrada .
    E como prova disso podemos centrar-nos naquilo que representou o socialismo na Europa, um termo que sei ser rejeitado e muito contestado por quem pensa da mesma forma que o MSP..

    Mas infelizmente a história está a tirar-lhe a razão.

    É notória a penúria em que mergulharam os povos do Leste da Europa, e ainda mais visível o recuo social, económico e de desenvolvimento a que foram submetidos os povos da Ásia Central nos últimos 20 anos. Isso é testemunho indesmentível que o Marxismo lhes foi útil.
    Face a tal descalabro,(como escreveu Peter Kenez, nunca em tempo de paz se verificou um descalabro de tamanhas proporções) por isso é vergonhoso o nosso silencio e a nossa falta de solidariedade hoje para com esses povos.
    No entanto a maioria de nós andamos a apregoar que defendemos e lutamos por os direitos dos espoliados e oprimidos.

    Perante os factos conclui-se sem margem para duvidas ou quaisquer polemicas que com todos os seus erros, vicissitudes , desvios, oportunismos e excessos o Marxismo foi uma experiência muito positiva na vida desses povos .

    Cumprimentos.

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