O Prof. Marcelo, a Grândola, o 2 de Março e o Relvas

Uma das múltiplas virtudes das “Grândoladas” tem sido a sua capacidade de confrontar as elites e revelar o seu pensamento íntimo e contradições. Já tivémos o neandertal pensador a dizer que em espaços privados não há direitos (então dentro de minha casa ou empresa posso reinstaurar a escravatura?). Mas o meu apanhado favorito é do excelentíssimo Sr. Dr. Prof. Marcelo Rebelo de Sousa… é verdade, esteve também povo a cantar o Grândola quando a sumidade se deslocou a Loulé para aquilo que me parece mais uma das suas homilias (neste caso ao vivo e com direito a jantar…).

A táctica Marcelista foi a do Nacional-Porreirismo (“desdramatizem”), ora vejamos a personagem a cumprimentar os activistas.  Mas o mais lindo está no vídeo abaixo:

A conversa é reveladora. Confrontado com a crise e agravar da recessão Marcelo diz que a culpa é da Europa. Quando é pedida a queda do governo e novas eleições responde “pois, pois”. Quando se fala da demissão de Relvas e Gaspar, Marcelo contrapõe “ele nunca devia ter entrado para o governo”(penso que se estava a referir a Relvas)…

Este FARISEU quer tirar uma foto com os activistas, mas digam-me (eu não vi a sua homilia dominical) o que disse Domingo Marcelo sobre o 2 de Março? HIPÓCRITA, FALSO!!! 

Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a sepulcros caiados: formosos por fora, mas, por dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de imundície! Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.

Guias cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo!

E que disse Marcelo na sua homilia sobre o justo enxovalho de que foi alvo Relvas no ISCTE? Disse que nem devia ter ido para o governo? Como disse aos activistas que o confrontaram? Não… Marcelo lamenta que a JSD não se tenha mobilizado... Mobilizado para quê? Para actuar como milícia caceteira pró governo e anti contestação? Há quem salive com tal possibilidade.. mas tirem o cavalinho da chuva, a base social de apoio a este governo ruiu.

Em Novembro de 2011 escrevi o seguinte:

A crise é uma oportunidade para face ao medo introduzir mudanças radicais na sociedade portuguesa. Mas a falta de capital em Portugal, aliado a uma recessão generalizada europeia vai matar e afectar não só os grupos que os talibãs neo-liberais queriam esmagar (função pública, trabalhadores por conta de outrem da classe baixa e média baixa, quem vive de prestações sociais), mas uma enorme fatia da sua própria base social de apoio (pequenos comerciantes, empresários médios, quadros técnicos intermédios). A crise por eles desejada e incentivada, será de tal ordem que as medidas talibãs (tipo aumentar meia hora por dia de trabalho ou as privatizações a martelo…) não irão compensar minimamente a quebra que grande parte da própria base social de apoio a este governo irá sentir. As medidas talibãs irão de facto beneficiar um sector muito restrito no topo da pirâmide, tendo uma capacidade de influência completamente desproporcional face ao seu número, parece me mesmo assim uma base muito exígua de suporte ao Governo.

A última semana foi reveladora. De S. João da Madeira com Álvaro, passando pela Guarda com Macedo até a Faro com o Franklin BPN, a “Grândola” tem estado sempre presente. Mas é também dentro das próprias sessões de esclarecimento promovidas pelo PSD, abertas apenas a militantes do PSD, que se tem ouvido a contestação e críticas ao governo. A base popular do PSD está a ser triturada. Não será ela que irá fazer os “assaltos às sedes dos partidos de esquerda do PREC” aplicados agora ao século XXI. O Marcelo bem pode perguntar onde anda a JSD e a Helena angustiar-se com os Milicianos, o facto é que este governo é o mais odiado em 30 anos de democracia, ninguém virá à “rua” em sua defesa.

E mais uma vez, Portugal não é caso único na Europa. Na Bulgária o governo caiu e a contestação prossegue… privatizar monopólios naturais e serviços públicos é algo já testado e que dá sempre péssimo resultado. Em Espanha novas manifestações massivas. Em Itália veremos quantos votos o programa da Troika realmente obtém. Monti o vice-rei da Merkel e do FMI para as províncias italianas concorre às eleições, quantos votos terá?  E a pseudo-esquerda que se prepara para governar com Monti (veremos quais os resultados dessa estratégia suicida)? E o mafioso-demagogo, é um crápula, mas ao menos teve a lucidez política de eleger Monti como seu inimigo nº1 (pa enganar as massas, mas ao menos dá se a esse trabalho…)… E o palhaço? No meio desta palhaçada, envolvendo máfias domésticas e internacionais, veremos como se saí o genuíno palhaço.

E hoje em Portugal, mais uma vez, chega a Troika… a comissão encarregue de supervisionar o saque ao povo. É essa sua função, organizar o saque. E para lidar com essa gente só assim:

Pide25A

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6 respostas a O Prof. Marcelo, a Grândola, o 2 de Março e o Relvas

  1. João Duarte diz:

    Tudo bem, no artigo , só que a foto dos militares a prenderem o PIDE é que deveria ser outra. Este gajo nunca foi da PIDE. Era um farsante, que antes do 25 de Abril se fazia passar por PIDE. Enganou uns poucos, e , pelos vistos, até os militares. Agora não posso precisar em qual, mas tenho um livro, onde se conta isto do farsante.

  2. Era o Relvas, era o Relvas. A conversa foi comigo e confirmo. Vomitei quando vi o Jornal da noite da TVI.

    João Martins

  3. Já agora esclareço que estavam lá as televisões e ignoraram o protesto. Estivemos pelo menos uma hora à porta e cantámos dezenas de vezes a Grândola Vila Morena. Veio a GNR que não podendo fazer nada porque avisámos a Câmara Municipal nos mandou sair da…relva. Foi a ordem de sair da relva que por coincidencia nos levou ao Marcelo. O protesto foi claramente censurado. Com já sabemos disso andamos sempre armados com máquina fotográfica e câmara de vídeo. Está difícil de viver neste país.

    Abraço
    João Martins

  4. A propósito de Relvas, uma reflexão sobre as materializações espaciais da nossa vilipendiada democracia:
    http://georden.blogspot.pt/2013/02/a-policia-republica-e-os-marginais.html

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