“A Cinderela do Empreendedorismo” – Ricardo Araújo Pereira interpela o jovem Martim Neves

princesas_macabras_twisted_princess_cinderela_versao_2“Eu já obtive aquela resposta uma vez mas não foi de um miúdo, foi de um Primeiro-Ministro. Foi do Primeiro-Ministro da altura que hoje é Presidente da República. [‘É melhor o salário mínimo do que estar desempregado.’] Foi quando eu estava aqui na TVI, mandaram-me para uma fábrica em Oleiros, que o primeiro-ministro Cavaco Silva ia inaugurar, e eu perguntei a uma senhora, armado em parvo, perguntei a uma senhora lá na linha de montagem da fábrica, quanto é que ela ganhava, e a senhora disse: ‘Oh, ganho o salário mínimo, o que é que estava à espera’. E eu achei a senhora tão condoída que quando o primeiro-ministro chegou eu devolvi a pergunta. Já agora faço-lhe a pergunta que me fez aquela funcionária. E o Cavaco ficou muito irritado e disse: ‘se calhar o senhor prefere o desemprego mas eu prefiro o salário mínimo’. Agora que a cara da senhora não era de profunda satisfação “porque mais vale isto do que o desemprego. (…)

“(…) É possível construir pontes [entre o Martim e a Raquel] desde que os operários que a constroem não ganhem o salário mínimo. Acho eu. Era o mínimo para construir uma ponte entre essas duas pessoas. Mas aquilo que se passou, quer dizer, o momento que a circular, é o sonho húmido de um certo pensamento rústico-liberal. Porque tem tudo, tem todas as características. Tem a verdade na boca da criança, o menino que faz ver à doutora, o bom senso prático a superiorizar-se à teoria académica e tal, tudo o que agrada ali. É uma espécie de Cinderela do empreendedorismo. E portanto aquilo não tem grande discussão. Até porque o que ele diz, ‘é melhor ganhar o salário mínimo do que estar desempregado’, é mera aritmética. É como dizer: ‘pá, é como comer uma carcaça de anteontem do que não comer nada’. Agora desde que no final a gente concorde que ter uma alimentação à base de carcaças de anteontem continua a ser miserável, tudo bem. (…)”

“(…) Para mim o momento chave é o momento antes em que o Martim diz assim: ‘há bocado falou-se em empreendedorismo e eu ouvi alguns risos e eu quero dizer que não concordo’. Ele não concorda com os risos mas eu percebo os risos. Quando se fala de empreendedorismo a primeira coisa que nos ocorre é o Miguel Gonçalves, que apesar de tudo é bastante diferente que este rapaz. Porque este faz mesmo coisas. (…)”

“(…) O que está em causa, parece-me, é o seguinte. O Martim explicou o seu negócio todo, com excepção de um pequeno pormenor que eu acho fundamental. Ele disse: ‘Eu tive a ideia. Comecei a desenhar as roupas. Fui à fábrica. Convencia as miúdas mais giras da minha escola a deixarem-se fotografar com as minhas roupas e pus no facebook.’ Tudo isto está certíssimo, é uma boa ideia de negócio. Há só um pormenor que falta. No empreendedorismo é fundamental, em qualquer negócio que a gente faz, é preciso um investimento inicial. Ele disse ‘as minhas roupas hoje em dia são uma moda na linha de Cascais’. Eu acredito que um rapaz que não more na linha de Cascais, basta um quilómetro para o lado, provavelmente não se chama Martim chama-se Zé Manel, que tem a mesma ideia para uma linha muito gira de roupa barata, vai ao banco e tem quinze anos, e diz ‘preciso só um bocadinho de dinheiro para o investimento inicial para esta minha ideia que é espectacular’. E o banco diz: ‘vai-te embora pá’. E ele chega a casa e pede aos pais, que é é o que faz um miúdo de 15 anos quando quer começar um negócio. O que é que se passa. Os pais do Fábio, ou do Zé Manel, ao contrário dos do Martim, não têm dinheiro para lhe poder emprestar para ele começar o negócio. Porquê? Porque trabalham em fábricas de roupa barata e ganham o salário mínimo, estás a perceber? O problema é que esta conversa do empreendedorismo é uma actualização daquela conversa do ‘não têm pão comam brioches’, ‘não tens emprego, faz o teu emprego’. Com que dinheiro? Quando se diz, ‘empreendam porque é facílimo’, se calhar é melhor pensar que o empreendedorismo não é bem democrático. Não é acessível a toda a gente.” RAP.

Via humor bizzarru. Ouça todo o Governo Sombra, aqui.

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16 respostas a “A Cinderela do Empreendedorismo” – Ricardo Araújo Pereira interpela o jovem Martim Neves

  1. JgMenos diz:

    Treta de comuna idiota que acredita que a igualdade algum dia vai ser absoluta.
    Absoluta é a estupidez do argumento!
    Um quilómetro ao lado o comissário político é outro…

    • Bolota diz:

      Palhaço,

      Apesar de te desdobrares. mesmo assim não deixas de ser palhaço

    • Jovem Empresário diz:

      Ninguém alí promoveu uma igualdade absoluta. O que foi promovido foi um salário razoável para quem trabalha. Só com compensações razoáveis é que é possível um jovem ser “empreendedor” sem acabar a pedir empréstimos ou a submeter-se a investidores externos (“business angels”).

      E, já agora, não é “comuna” mas sim “comunista” (no caso do Ricardo A. Pereira, “Marxista” em concreto). Não use esse calão vulgar ao referir-se aos comunistas que isso não lhe fica nada bem…

  2. Pingback: Depois de Miguel Gonçalves, o bufão da pipoca, eis Martim Neves, a Cinderela do empreendedorismo. Ricardo Araújo Pereira dixit. | Sentidos Distintos

  3. Dezperado diz:

    Este não é “aquele jovem” que faz anuncios para a Meo, que dá a cara por uma empresa que “paga rios de dinheiro” aos seus funcionarios dos call centers???

    • E ainda assim, não perdeu de vista o essencial.

      • Rafael Ortega diz:

        LOL.
        Que bonito é eles a defenderem-se uns aos outros.

        Se ele fizesse anúncios para uma empresa que paga bem aos seus funcionários mas fosse de direita era um perigoso fássista.

        Faz para uma que paga mal, mas é cá da malta, então “não perdeu de vista o essencial”.
        Vocês seriam cómicos não fosse o facto assustador de acreditarem no que dizem.

      • RC diz:

        Se eu for dono de uma empresa que paga salários de merda aos trabalhadores, basta-me escrever um texto igual ao do Ricardo para obter a vossa aprovação e vocês dizerem que não perdi de vista o essencial?

    • nightwishpt diz:

      Tem razão, todos os comunistas deviam ir para uma comuna no meio do mato e rejeitar a civilização.

      Juízo, pá.

  4. anonimo diz:

    “No empreendedorismo é fundamental, em qualquer negócio que a gente faz, é preciso um investimento inicial.”
    Estaria Ricardo Araújo Pereira a referir-se à importância do CAPITAL?
    Pensava que o CAPITAL não só não faz falta como é repugnante.

  5. JP diz:

    Pergunta de desenvolvimento:
    Relacione a necessidade de capital inicial de uma empresa/ideia/negocio com a existência de mais de 15 fundos de capital de risco, em Portugal. Complete ainda com a existência de 2 associações de Business Angels, cada uma com mais de 100 associados.

    Discutir assim, quando é preciso explicar coisas tão elementares é mais difícil. Estudem melhor os temas e não digam disparates.
    Em Portugal, hoje, é possível obter financiamentos até algumas centenas de milhares de euros, a risco (não é divida bancaria), se o projecto tiver mérito para isso.
    Qualquer pesquisa no Google minimamente bem feita informaria disto. Mas é claro que é mais fácil continuar a propagar os velhos mitos…

    • Carlos Carapeto diz:

      Assim é muito complicado, o capital complica sempre para sacar mais lucros.

      O método Stakhanov de produção coletivo é mais facil , muito mais produtivo e mais eficiente.

      É aquilo que para aí chamam de trabalhar em equipa, saber integrar-se numa equipa, ter espirito de equipa, só que os malandros não querem assumir que foi um operário chamado Alexei Stakhonov que inventou esse método de trabalho.

      O “sacana” era comunista e os comunistas nunca fizeram nada de bom. para eles claro, os burgueses.

      • hué stakanov ou stácónov decide-te meu.... diz:

        é mais ó menos o método gato fedorento juntam-se 4 tipos numa mina de carvão e sacam 500 mil por ano à PT pra fazer palhaçadas na meow meow do gato box

        e deixa de insultar o camarada alvaro cunhal um burguês dos 4 costados

        já o camarada jerónimo é um operário da siderurgia de são bento vai para 34 anos
        deviam reforma-lo ou emvalsamá-lo uma dessas

  6. Pingback: cinco dias

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