Mandela foi transformado num santo secular, uma figura elogiada e venerada de forma quase universal…
Agora… Esta unanimidade só tomou forma após a sua libertação e a queda do Apartheid. Antes disso era bem diferente. Como aqui e aqui já foi referido, Cavaco, Thatcher e a direita em geral, consideravam Mandela um terrorista, queriam-no na prisão e, de facto, não queriam o fim do Apartheid.
Mas Mandela acabou por ser libertado e o Apartheid derrotado. Como? Por quem?
Não foi por vontade da direita que liderava a contra-revolução conservadora dos anos 80, pelo contrário, esses não só hostilizavam Mandela como armavam os seus inimigos.
Se Mandela foi libertado deve-o à própria luta dos Sul Africanos que combateram o Apartheid e às campanhas de solidariedade internacional dos anos 80… E sobre isso o que nos diz o próprio Mandela? Uma das suas primeiras visitas internacionais após a saída da prisão, em 1990, foi a Cuba. Nessa visita Mandela interpela Castro: “A nossa amiga Cuba ajudou a treinar o nosso povo, deu-nos recursos para continuar a luta, treinou médicos de soldados.”
O apoio Cubano aos movimentos de libertação Africanos foi um factor decisivo na derrota do imperialismo e colonialismo. Cuba enviou centenas de milhar dos seus filhos para África como Soldados, Médicos, Professores, Técnicos, etc… Em final dos anos 80, já com a queda do muro à espreita, apesar das reticências Soviéticas, metade do exército Cubano estava em Angola. Nessa altura dá-se a Batalha de Cuíto Cuanavale, a maior batalha travada em África desde a II Guerra Mundial, nessa batalha as forças Cubanas-MPLA derrotaram as tropas do regime racista da África do Sul e outros agentes do imperialismo (ler aqui e aqui). Como resultado desta vitória as tropas sul-africanas retiraram de Angola, foi dada a independência à Namíbia e o Apartheid recebe um golpe mortal.
Assim se explica muito do como e do quem foi responsável pela libertação de Mandela e pelo fim do Apartheid.
conclusão…não foram os milhares de sul-africanos que combateram o apartheid durante décadas, mas sim os cubanos que peritiram a libertação de mandela…pois…pois…
Não foi isso que disse, alguém que leia o texto com honestidade não tira essa conclusão. Só quem há partida padece de certos “reflexos pavlovianos” e preconceitos tira essa conclusão.
Leia o que escrevi:
– “Se Mandela foi libertado deve-o à própria luta dos Sul Africanos que combateram o Apartheid e às campanhas de solidariedade internacional dos anos 80…” é logo a primeira linha da minha resposta ao “como e por quem”.
– “Assim se explica muito do como e do quem foi responsável pela libertação de Mandela e pelo fim do Apartheid.” A última linha deste texto. A solidariedade Cubana e Cuito Cuanavale explicam muito, não explicam tudo.
Mas enfim, quem é preconceituoso e mal intencionado pega sempre por algum lado.
claro, eu é que sou uma besta quadrada…daí o francisco ter colocado uma foto de mandela acompanhada por fidel, e um vídeo com o el comandante e o presidente da áfrica do sul.
talvez seja simplesmente um problema meu que me dedico bastante à lógica das imagens.
É um post curto, não uma dissertação de doutoramento acerca da luta contra o Apartheid. Neste dia em que tanto se fala de Mandela e da luta contra a opressão em abstracto, escolhi focar-me num aspecto decisivo e pouco divulgado da luta na África do Sul contra o regime do Apartheidh, integrada na mais vasta luta anti-colonial que se travou em África na segunda metade do século XX.
Quanto à qualificação que faz da sua atitude, já que enfiou a carapuça, não sou eu que a vou tirar.
Um bom post que lembra coisas que outros querem esconder.debaixo do tapete ou em armários.
Aqui também os factos históricos deixam alguns desamparados, quiçá mesmo à beira de um ataque de nervos
Pingback: Violência armada? só se for para defender o imperialismo e o capital… | cinco dias
Mas – factos são factos, e «são teimosos» como dizia o outro – a direita liberal sul-africana (os “verligte”) também lutaram (à maneira deles, mas lutaram) contra o «apartheid».
Até porque no entender deles – dessa «direita liberal» – e de um ponto de vista da eficácia e/ou eficiência do capitalismo na África do Sul, o apartheid era (ou tinha-se tornado) obsoleto e contraproducente.
Era preciso «mudar alguma coisa para que tudo continuasse na mesma»…
Só que essa «coisa» era todo um regime de discriminação racial que afectava dezeenas de milhões de pessoas e não foi fácil.
Aqui há uns meses fui contactado por uma senhora jornalista para me pedir a minha opinião sobre aquilo que poderia acontecer na África do Sul quando morresse Nelson Mandela. Era ainda a repetição do síndroma «WHAM» («what happens after Mandela»). A minha opinião terá sido simples, curta e directa «quanto baste»: «nada de especial»…
É evidente que o homem Nelson Rolihlahla Mandela esteve mais do que à altura das circunstâncias históricas em que teve que viver e figuras como ele (no século XX) talvez apenas Mahatma Gandhi. Curiosamente também foi na África do Sul (confrontado com a brutalidade estúpida de um regime de «apartheid» – ainda sob o domínio britânico!…) que também Mahatma Gandhi terá «acordado» para a sua militância pela justiça social.
Mas justamente pela sua grandeza moral como pessoa é que Mandela soube conquistar os seus opressores e levá-los à conclusão que o melhor mesmo para «eles» (os dirigentes «afrikanderes») era aceitarem uma África do Sul consolidada e plenamente integrada no globalização neoliberal onde eles já tinham – entretanto – garantido o seu lugar. Tudo isso, de uma «África do Sul unida e consolidada», em vez de uma balcanização em que cada «tribo» – incluíndo a «tribo» Afrikander – pudesse construir o seu próprio «estado-nação».
E lembrei (ou informei) a referida senhora jornalista de que o processo de libertação de Nelson Mandela tinha sido preparado, com muita antecedência. E até e sobretudo por pressão dos dirigentes do capitalismo sul-africano. Foi assim que durante os últimos anos da sua vida como prisioneiro, na prisão de «Victor Verster», Nelson Mandela passou a ser tratado com a deferência, respeito e “mordomias” adequadas a quem estava naturalmente destinado a vir a ser Presidente da República. Tudo isso – das condições de vida e das negociações sobre a libertação – está documentado.
E isso de modo a garantir a continuidade do sistema social e económico em que vivem (e sempre viveram) os sul-africanos. Bastava para isso «cooptar» os principais dirigentes «negros» (e outros «não.brancos») para posições de relevo social e económico. Em jargão lusitano «em vez de serem os brancos a arcar com a odium de reprimir os trabalhadores pretos, que fossem então agora alguns dirigentes negros a encarregar-se dessa tarefa».
Uma eventual marcha para o Socialismo, isso era uma outra questão.
Aquando das provas públicas da tese «A África do Sul e o Sistema-mundo – Da Guerra dos Boeres à Globalização» tive ocasião de comparar De Klerk com Marcelo Caetano. Este não tinha tido a coragem suficiente para fazer uma descolonização «a tempo e horas». Aquele dirigente africander, tendo visto o que tinha acontecido com as antigas colónias portuguesas, «pôs as barbas de molho» e decidiu fazer aquilo que fez – um golpe de Estado para forçar a demissão do seu antecessor P.W.Botha (o qual hesitava e continuava a hesitar naquilo que fazer para acabar de vez com o regime de «apartheid»).
O resto é história.
O regime racista cedeu porque comprender que o seu tempo tinha chegado ao fim. Quando a fera se sentiu encurralada usuou todas as estratégias para encontrar uma saída.
O resto são estórias da carochinha.
É precisamente como o Franciso escreve, a derrota das SAFD e da UNITA no Cuito foi decisiva para o fim do regime do apartheid.
Por outro lado enquanto decorria essa batalha “considerado o maior confronto militar ao sul do equador” era construido o aerodromo da Caama, mesmo debaixo do nariz dos Sul Africanos, a partir desse momento perderam também o dominio do ar.
Tal como Fidel afirmou na altura foi usada a tactica do boxeur, com a mão esquerda sustem-se os golpes do adversário e com a direita o golpeia-se.
Quando os MIG começaram a sobrevoar livremente o território da Namibia e souberam que as colunas militares das FAPLA e das FAR se estavam a dirigir para o sul (fronteira da Namibia) ficaram todos em pânico e foi precisamente nesse momento que o regime racista decidiu iniciar negociações, internas e externas.
Nas negociações externas perderam em tudo, internamente expremeram Mandela o mais que poderam. Tanto assim que o isolaram dos outros membros do ANC, Walter Sisulu, Ahmed Kathrada, Andrew Mlangeni e outros que já se encontravam detidos em Pollsmoor.
Esse jogo de negociações secretas com Mandela mantevesse durante um ano. Esteve à beira de provocar uma cisão no ANC, foi por a Winie não ter aceite muito bem isso, que depois criaram todo aquele trama, que levou ao dovórcio.
Por outro lado que fique bem claro, a glorificação dos midia que fazem a Mandela acerca do gesto de erguer o punho quando foi libertado, já havia algum tempo que Winie o vinha fazer.
O que pertence a Mandela ninguém lho pode tirar, mas que houveram umas jogadas dificeis de compreender não tenhamos dúvidas que houve.
É como o caso das armas nucleares, até hoje ninguém sabe de onde vieram e para onde foram.
O apartheid foi banido institucionalmente, no entanto formalmente e do ponto de vista social continua com poucas alterações.
Foi criada uma élite negra, mas a maioria da população Africana continua a ser f…. vivendo nos bairros de lata como dizia Niemeyer referindo-se aos pobres do Brasil.