O início da entrevista de Sócrates à Antena 1 cirandou em torno do livro lançado na esteira do famoso mestrado parisiense. Às perguntas da respeitosa jornalista, lá foi ele respondendo com um rosário de inanidades; fraquito, para quem terá passado largos meses a estudar a história e a práxis da tortura.
Acredite-se ou não, a cumplicidade do então primeiro–ministro na exportação de suspeitos de terrorismo para países fornecedores de tortura em outsourcing ficou incólume. A sério: a perguntadora não se lembrou de questionar o indignado mestre sobre os dias em que autorizou formalmente, mas em segredo, a passagem de “repatriados” pela base das Lajes. Sabemo-lo hoje, não por mea culpa socrática, mas pela pena do embaixador dos EUA, via Wikileaks.
Que tudo se possa fazer e dizer sem castigo nem enxovalho público é uma das ferrugens que corrói a nossa vida democrática. Vamo-nos habituando à recuperação de todos os figurões, à reciclagem dos monos mais frustes. E são muitos: da verruga Portas, que não pára de inchar no rosto do Estado, imune a escândalos e achaques irrevogáveis, ao Presidente, que teima que ganhar um monte de dinheiro com acções do BPN equivale a nunca ter tido qualquer relação com o banco maldito. Agora até temos um cardeal a entoar o cantochão da nossa suposta inviabilidade financeira, esquecendo, por exemplo, que a sua igreja detém milhares de imóveis e não paga IMI sobre um só.
Quando os poderosos perdem a vergonha, logo os humildes perdem o respeito.
Penso que o Sr. Policarpo se devia debruçar sobre os escândalos da pedofilia na Igreja Católica que continuam por esclarecer, em Portugal e noutros países: as indemnizações andam há anos a ser estudadas. Até parece uma «agenda escondida». E depois queixam-se que não têm católicos, nem noviços, nem esmolas. Eu continuo crente mas já muito afastada da Igreja Católica desde os escândalos avassaladores da pedofilia. O Sr. Policarpo não tem um pingo de vergonha: fale antes da pedofilia e investigue junto da sua comunidade e dê a cara.
A invocação do IMI da Igreja era desnecessário!
O volume dos confiscos em imóveis à Igreja antecipou o pagamento do IMI para vários séculos!
Sim?
Este discurso fez-me lembrar as numerosíssimas vítimas dos autos-de-fé em nome do poder temporal da mesma.
As indemnizações aos descendentes vítimas da barbárie estará na ordem do dia do discurso à cesar das neves?
É que ainda por cima entre os ditos imóveis da igreja muitos resultaram do confisco às vítimas desses mesmos autos-de-fé.
“As punições tornaram-se bem mais pesadas com a instituição da morte na fogueira, da prisão perpétua e do confisco de bens – que transformou a Inquisição numa actividade altamente rentável para os cofres da Igreja”
Com o IMI como anda, acho que essa verba já se esgotou há uns anos fiscais…
E parece-me que até os descendentes dos Távoras têm de pagar IMI.