Um silêncio ensurdecedor

Quem se informa a partir de órgãos de comunicação social portugueses não terá reparado que se está a realizar a terceira Trienal de Arquitectura de Lisboa. Manifestando a minha incapacidade para fazer neste espaço uma leitura de conteúdos, substância e consequências de um evento que apenas terminará em Dezembro e que agrega inúmeros acontecimentos por toda a cidade, interessa-me desde já constatar duas originalidades.
Sendo a primeira Trienal que não tem a internacionalização como objectivo público, é curioso ver o estrondo de críticas que tem vindo a obter fora de Portugal, tanto na comunicação social da especialidade como na generalista. Na semana inaugural, Lisboa foi o centro da arquitectura mundial. Em cada esquina havia um debate sobre temáticas fundamentais para a contemporaneidade, com muitos dos mais pensadores internacionais interessantes, num processo apenas criticável pela proliferação de temas e locais que tornava incompetente o mais ubíquo cidadão.
Por outro lado, é aterrador perceber o silêncio e a ausência concertada da maioria dos actores da promoção da arquitectura nacional. Foi com imensa surpresa assisti à escolha de Beatrice Galilee para curadora geral. Só quem não conhecia o seu trabalho poderia pensar que se pudesse repetir um evento laudatório/evocativo, com a tradicional exposição monográfica de fotografias de edifícios que pudesse ser inaugurada para degustação e consumo da comunidade lusa bem-pensante. A primeira Trienal Internacional de Arquitectura de Lisboa é, certamente, merecedora de muitas dúvidas, críticas e discussões como as que ocorrem pelo mundo fora, e a tradicional comunidade de promoção da arquitectura lusa está mais que habilitada a participar nessas discussões. Contudo, o seu silêncio ensurdecedor revela que abdica de a fazer, provavelmente para não traçar diferenças. Só assim poderá perpetuar os seus poderes, tanto nas curadorias da corte como na Ordem dos Arquitectos.

Sábado no i

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