Pepe Mujica na ONU

Deixo-vos o vídeo, seguido da tradução, do discurso integral de Pepe Mujica, na 68ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, dia 24 de Setembro.


Amigos, todos,

Sou do sul, venho do sul. Da esquina do Atlântico com o Rio Plata. O meu país é uma planície suave, temperada e que permite viver da pecuária. A sua história é de portos, de peles, de fumados, de lã e de carne. Teve décadas púrpuras de lanças e cavalos até que, finalmente, no início do século XX, decidiu ser vanguarda no que é o social, no Estado e na educação. Eu diria até: a social-democracia foi inventada no Uruguai.

Durante quase cinquenta anos o Mundo olhou para nós como uma espécie de Suíça; fomos, na realidade, falando de economia, filhinhos bastardos do Império Britânico. Quando este sucumbiu, vivemos as passas do Algarve no que toca ao fim de mudanças funestas. Ficámos parados com saudades do passado. Passámos cinquenta anos a recordar Maracaná, a façanha desportiva. Hoje ressurgimos neste mundo globalizado e, talvez, aprendamos com a nossa dor. A minha história pessoal: a de um garoto – porque um dia fui garoto – que, como outros, quis mudar a sua época e o seu mundo, em busca do sonho de uma sociedade liberta e sem classes. Os meus erros: em parte são filhos do meu tempo, é obvio que os assumo, mas há momentos em que me grito com nostalgia: “Houvesse quem tivesse a força que nós tivemos quando éramos capazes de conter tanta utopia!”

Não olho, no entanto, para trás, porque o hoje real nasceu das cinzas férteis do ontem. Antes pelo contrário, não vivo para cobrar nem para fazer ecoar memórias. Angustia-me (e de que forma) o futuro que aí vem e que não irei ver, mas pelo qual me comprometo.

É possível um mundo com uma humanidade melhor, mas talvez hoje a primeira tarefa seja salvar a vida.

Mas sou do sul e venho do sul a esta assembleia. Carrego, inequivocamente, às costas, os milhões de compatriotas pobres das cidades, dos pântanos, das florestas, dos prados e dos túneis da América Latina, essa pátria comum que se está a fazer. Carrego com as culturas originárias espezinhadas, com os restos do colonialismo nas Malvinas, com os bloqueios inúteis e tristes a esse jacaré por baixo do sol do Caribe ao qual chamamos Cuba. Carrego com as consequências da vigilância electrónica que não faz mais do que semear desconfianças que nos envenenam inutilmente. Carrego às costas uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazónia, os mares, os nossos grandes rios da América. Carrego às costas o dever de lutar por uma pátria para todos. Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz. E carrego também às costas o dever de lutar pela tolerância – a tolerância é necessária – para com os que são diferentes, e com os quais temos diferenças e discordamos (a tolerância não é necessária para aqueles com os quais concordamos). A tolerância é o fundamento para poder conviver em paz, entendendo que, no mundo, somos diferentes.

[O combate à economia suja, ao tráfico de drogas, ao roubo e à fraude, à corrupção, pragas contemporâneas adoptadas pelo antivalor], o mesmo que sustém a crença de que somos mais felizes se enriquecermos, e de qualquer forma.

Sacrificámos os velhos deuses imateriais e ocupámos o templo com o deus mercado. Ele organiza-nos a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia as quotas e os cartões de crédito, a aparência de felicidade. Poderia parecer que nascemos só para consumir e consumir e, quando não podemos, carregamos a frustração, a pobreza e até a auto-exclusão.

O certo é que, hoje, para gastar e enterrar desperdícios, a chamada pegada de carbono pela ciência, se toda a humanidade aspirasse ao consumo dum norte-americano médio, seriam imprescindíveis três planetas para poder viver. Por outras palavras: a nossa civilização montou um desafio mentiroso e, continuando assim, não nos será possível satisfazer para todos este sentido de desperdício que se deu à vida.

Como uma cultura da nossa época, está a massificar-se, nas acções, a direcção pela acumulação e pelo mercado. Prometemos uma vida de desperdício e esbanjamento que, no fundo, constitui uma conta regressiva contra a natureza e contra a humanidade como futuro. Civilização contra a simplicidade, contra a sobriedade, contra todos os ciclos naturais. Pior do que isso, civilização contra a liberdade que pressupõe tempo para viver as relações humanas – a única coisa transcendente –, o amor, a amizade, a aventura, a solidariedade, a família. Civilização contra o tempo livre que não paga, que não se compra, e que nos permite contemplar e examinar minuciosamente o cenário da natureza.

Arrasámos as selvas verdadeiras e implantamos selvas anónimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com andarilhos, a insónia com medicamentos, a solidão com electrónica… somos por acaso felizes afastados do eterno humano? (Cabe fazer-se esta pergunta.) Aturdidos, fugimos da nossa biologia, que defende a vida pela própria vida como causa superior, e suplantámo-la pelo consumismo funcional – funcional à acumulação. A política, a eterna mãe do acontecer humano, ficou acorrentada à economia e ao mercado.

De salto em salto a política mais não pode do que perpetuar-se e, como tal, delegou o poder e entretém-se atordoada na luta pelo governo. A historieta humana anda fugidia, a comprar e a vender tudo e a inovar para poder negociar de alguma forma aquilo que não é negociável. Há marketing para tudo: os cemitérios e o serviço fúnebre; para as maternidades; marketing para pais, mães, avós e tios, passando pelas secretárias, os automóveis e as férias. Tudo, tudo é negócio. E, além disso, as campanhas de marketing recaem deliberadamente sobre as crianças e a sua psicologia, de forma a influenciar os mais velhos, para garantir um território no futuro. Sobram provas destas tecnologias bastante abomináveis que induzem, por vezes, frustrações, e que matam.

O homenzinho médio das nossas grandes cidades deambula entre as repartições de finanças e o tédio rotineiro dos escritórios temperados, às vezes, com ar condicionado. Sonha sempre com as férias e com a liberdade. Sonha sempre em conseguir pagar as contas até que, um dia, o coração pára e adeus…

Haverá outro soldado a cobrir as garras do mercado e a assegurar a acumulação. É que a crise é a impotência da política, que é incapaz de entender que a humanidade não escapa nem escapará ao sentimento de nação, porque este está quase incrustado no nosso código genético (pertencemos a algum lado). Mas hoje é tempo de começar a batalhar e preparar um mundo sem fronteiras.

A economia globalizada não tem outro objectivo que não seja o interesse privado de muito poucos; e cada Estado nacional procura a continuidade da sua estabilidade. Mas hoje a grande tarefa para o nosso povo, na nossa humilde forma de ver, é o todo. Como se isto fosse pouco, o capitalismo produtivo, francamente produtivo, é prisioneiro da caixa dos bancos e, estes, são a ponta do poder mundial. Para esclarecer: acreditamos que o mundo exige a gritos regras globais que respeitem as conquistas da ciência, que abundam, mas não é a ciência a que governa o mundo.

É necessário, por exemplo, uma longa agenda de definições: quantas horas de trabalho, na terra inteira; a possibilidade da convergência de moedas; como é que se poderá financiar a luta global pela água e contra a desertificação; como e o que é que se recicla e como é que se faz pressão contra o aquecimento global. Quais são os limites para cada grande “que fazer” humano. Seria imperioso conseguir consensos alargados para uma solidariedade com os mais oprimidos e para castigar impositivamente a fraude e a especulação. Mobilizar as grandes economias, não para criar coisas descartáveis com obsolescências calculadas, mas para criar bens úteis sem frivolidades, para ajudar a levantar aos mais pobres do mundo. Bens úteis contra a pobreza mundial. Muito mais rentável do que fazer guerras é despejar um Neokeynesianismo útil de escala planetária para abolir as vergonhas mais flagrantes do mundo.

Talvez o nosso mundo precise de menos organismos, daqueles que organizam fóruns e conferências, que mais não servem do que cadeias hoteleiras e companhias aéreas nas quais, no melhor dos casos, ninguém ganha nem transforma nada em decisões. Sim, temos de mastigar muito o velho e o eterno da vida humana junto da ciência, essa ciência que se empenha pela humanidade e não por enriquecer. Com eles, de mãos dadas com os homens da ciência, primeiros conselheiros da humanidade, temos de criar acordos para o mundo inteiro. Nem os grandes estados nacionais, nem as empresas transnacionais e muito menos o sistema financeiro, deveriam governar o mundo humano. Sim, a alta política entrelaçada com a sabedoria científica. É aí que está a fonte. Essa ciência à qual não apetece o lucro mas o futuro, e que nos diz coisas que não entendemos. Há quantos anos é que nos disseram determinadas coisas às quais não prestámos atenção? [Parece-me que é necessário convocar a inteligência ao leme do navio.]

[Coisas deste tipo e outras que não posso desenvolver parecem-nos imprescindíveis, mas requerem que o determinante seja a vida e não a acumulação. Não somos inocentes, estas coisas não irão passar, nem outras parecidas. Temos ainda pela frente muitos sacrifícios inúteis. Hoje o Mundo é incapaz de criar uma regulação planetária à globalização, o que se deve ao enfraquecer da alta política (aquela que se ocupa de tudo).

Iremos assistir durante um tempo ao refúgio de acordos mais ou menos “reclamáveis”, que vão planear um mentiroso livre comércio interno, mas que, no fundo, vão acabar por construir parapeitos proteccionistas, supranacionais nalgumas regiões do planeta. A seu tempo irão crescer ramos industriais e de serviços dedicados à salvação o meio ambiente. Iremos, assim, consolar-nos. Continuará inabalável a acumulação, para regozijo do sistema financeiro. Irão continuar as guerras e, portanto, os fanatismos, até que a natureza os traga à ordem e torne inviável esta civilização. Talvez a nossa visão seja demasiado crua, sem piedade, e talvez olhemos para o homem como uma criatura única, a única capaz de ir contra a sua própria espécie.

Volto a repetir, a crise ecológica do planeta é a consequência do triunfo avassalador da ambição humana. Esse é o nosso triunfo mas é também a nossa derrota], pela nossa impotência política de nos enquadrar numa nova época que construímos sem nos aperceber.

Porquê, pergunto eu. São dados, mais nada. O certo é que a população quadruplicou e o PIB cresceu pelo menos vinte vezes no último século. Desde 1990, aproximadamente a cada seis anos o comércio mundial duplicou. Poderíamos continuar a apontar dados que estabelecem com claridade o passo da globalização. O que é que nos está a acontecer? Entrámos noutra época aceleradamente, mas com políticos, armadilhas culturais, partidos e jovens – todos velhos –, perante a pavorosa acumulação de lucro, que nem sequer podemos registar. Não somos capazes de manobrar a globalização porque o nosso pensamento não é global, e não sabemos se não é global devido a uma limitação cultural ou se atingimos limites biológicos.

A nossa época é, portentosamente, revolucionária, como a história da espécie humana ainda não conheceu, mas não tem uma condução consciente. Mais do que isso, não tem, sequer, uma condução simplesmente instintiva. Quanto mais uma condução política organizada, já que nem temos sequer tido filosofia precursora perante a velocidade das mudanças que se foram acumulando.

A cobiça tão negativa, e motor da história, que tanto nos empurrou para o progresso material, técnico e científico, apesar de fazer daquilo que é a nossa época e do nosso tempo um avanço fenomenal em muitas frentes; essa mesma ferramenta, a cobiça, paradoxalmente, empurrou-nos para uma domesticação da ciência acabando por a transformar em tecnologia. Essa cobiça precipita-nos para um abismo enevoado, para uma história que não conhecemos. Para uma época sem história, na qual estamos a ficar sem olhos nem inteligência colectiva para continuar a colonizar e a perpetuar-nos, transformando-nos. Porque há uma característica que este bicho humano tem: é um conquistador antropológico.

Parece que as coisas tomam autonomia e submetem os homens. Tanto por um lado como por outro sobram suspeitas para vislumbrar estas coisas e, além disso, vislumbrar o rumo. Decisões globais por esse todo. Ou seja, a cobiça individual triunfou largamente sobre a cobiça superior da espécie. Esclareçamos: que é tudo para nós? A vida global no sistema terra, incluindo a vida humana, com todos os equilíbrios frágeis que tornam possível a nossa perpetuação.

Por outro lado e para simplificar, por se poder opinar pouco e ser mais evidente, particularmente no nosso Ocidente (porque é daí que vimos, ainda que venhamos do sul), as repúblicas nascidas para afirmar que nós, os homens, somos iguais; que ninguém é mais do que ninguém; que os seus governos deveriam representar o bem comum, a justiça e a equidade, muitas vezes deformam-se e caem no esquecimento das pessoas que vivem, hoje, que andam pelas ruas das povoações comuns. As repúblicas não foram construídas para vegetar por cima do povo. São, pelo contrário, um grito na história para ser tornarem parte funcional dos próprios povos e, portanto, as repúblicas devem à maioria e à luta pela promoção das maiorias.

Devido a reminiscências feudais, que estão na nossa cultura, ou ao classicismo dominante, ou ainda à cultura consumista que a todos nos rodeia; as repúblicas, nas suas direcções, adoptam frequentemente um viver diário que exclui e põe em causa o homem da rua. Esse homem da rua deveria ser a causa central da luta política, da vida, da república. Os governos republicanos deveriam parecer-se cada vez mais com os seus povos na forma de viver e na forma de se comprometer com a vida.

Temos o hábito de cultivar arcaísmos feudais, cortesanices consentidas, fazemos diferenciações hierárquicas, que, no fundo, arrancam o melhor que as repúblicas têm. O jogo destes e outros factores retêm-nos na pré-história, e, hoje, é impossível renunciar à guerra quando a política fracassa. É assim que se estrangula a economia e que desperdiçamos recursos.

Ouçam bem, meus queridos amigos: por cada minuto gastam-se dois milhões de dólares em orçamentos militares no mundo. Dois milhões de dólares por minuto em orçamentos militares. Na investigação médica de todas as doenças, que avançou enormemente e que é uma bênção para a promessa de viver mais uns anos, essa investigação cobre apenas uma quinta parte da investigação e do desenvolvimento militares. Este processo do qual não conseguimos sair, porque é cego, assegura o ódio e os fanatismos, desconfianças, que são fontes de novas guerras, o que também custa fortunas.

A autocrítica nacional é fácil, poeticamente. E é inocente planear, neste mundo, uma poupança nestes orçamentos e gastar noutras coisas… úteis. Isso seria possível, mais uma vez, se fossemos capazes de fazer acordos e prevenções mundiais de políticas planetárias que garantissem a paz e que nos dessem, aos mais débeis, garantias que não temos. Há, nestes orçamentos, enormes recursos para cortar e para poder resolver as maiores vergonhas na Terra, mas… basta uma pergunta. Esta humanidade, de hoje, para onde iria, sem a existência dessas garantias planetárias? Cada qual tem armas de acordo com a sua magnitude. E é aí que estamos. Porque não somos capazes de racionar como espécie. Apenas como indivíduo.

As instituições mundiais de hoje em dia, particularmente, vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações e, obviamente, como estas querem reter a sua quota parte de poder, bloqueiam, por acções, esta ONU que foi criada com uma esperança e com um sonho de paz para a humanidade. Pior do que isso, extirpam-na da democracia, no sentido planetário – porque não somos iguais, não podemos ser iguais neste mundo, onde há fortes e fracos. É, portanto, uma democracia planetária ferida que está a cortar da história um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e que exista de facto. Remendam-se, mediante apeteça a algumas das grandes potências, doenças que eclodem aqui e acolá. Nós, os restantes, olhamos de longe. Não existimos.

Amigos, a mim parece-me ser muito difícil inventar uma força que seja pior do que o nacionalismo chauvinista das grandes potências. A força, que é libertadora dos débeis. O nacionalismo, pai dos processos de descolonização, formidável para com os fracos, transforma-se numa ferramenta opressora nos braços dos fortes. Nos últimos duzentos abundam exemplos de todo o lado.

A ONU, a nossa ONU, definha e burocratiza-se por falta de poder e de autonomia, de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para com o mundo mais débil – que é a esmagadora maioria do planeta. A título de exemplo, pequenino: o nosso país apresenta, em termos absolutos, a maior quantidade de soldados em missões de paz de todos os países da América Latina. Estamos ali, onde nos pedirem para estar. Mas somos pequenos e fracos. Onde se tomam as decisões e se repartem os recursos, não entramos nem para servir o café. No mais profundo dos nossos corações existe o desejo de ajudar o homem a sair da pré-história. Eu defino que, enquanto o homem viver em clima de guerra, está na pré-história. Independentemente dos artefactos que construa.

Enquanto o homem não sair dessa pré-história e não arquivar a guerra como recurso quando a política fracassa, nós teremos pela frente um longo desafio. E dizemo-lo com conhecimento de causa. Conhecemos a solidão da guerra.

Porém, estes sonhos, estes desafios que estão no horizonte, implicam lutar por uma agenda de acordos mundiais que comecem a governar a nossa história e a superar, passo a passo, as ameaças à vida. A espécie deveria ter um governo para a humanidade que superasse o individualismo e lutasse por criar cabeças políticas que acudam ao caminho da ciência, e não só nos interesses imediatos que nos governam de momento e nos afogam.

Paralelamente, é necessário entender que os indigentes do mundo não são de África ou da América Latina, são da humanidade como um todo. Esta, como tal, globalizada, deve promover e empenhar-se no seu desenvolvimento, para que possam viver com decência sem depender de ninguém. Os recursos necessários existem, estão nesse saque de desperdícios da nossa civilização. 

Há poucos dias prestaram ali, na Califórnia, numa agência de bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada eléctrica que se mantém acesa há cem anos. Quantos milhões de dólares nos roubaram dos bolsos, para fazer, deliberadamente, coisas para que as pessoas comprem, e comprem, e comprem?

Esta globalização, ou seja, olhar para todo o planeta e durante toda a vida, significa uma mudança cultural brutal. É aquilo que a história exige. Toda a base material mudou e cambaleou e, os homens, com a nossa cultura, permanecemos como se nada tivesse acontecido. Em lugar de governar a civilização, é ela que nos governa. Há mais de vinte anos que discutimos a humilde Taxa Tobin, mas é impossível aplicá-la em todo o planeta. Todos os bancos do poder financeiro levantam-se, feridos na sua propriedade privada e numa série de outras coisas. E é isto que é paradoxal. 

Contudo, com talento e trabalho colectivo, com ciência, o homem consegue, passo a passo, transformar os desertos em verdes. O homem consegue levar a agricultura ao mar. O homem pode desenvolver vegetais que vivam com água salgada. A humanidade concentra-se no essencial. É incomensurável. É ali que estão as mais portentosas fontes de energia. Que sabemos nós da fotossíntese? Quase nada. A energia que há no mundo sobra, se soubermos usá-la e trabalhar com ela.

É possível arrancar de raiz toda a indigência do planeta. É possível criar estabilidade e sê-lo-á possível para as gerações vindouras, caso sejam capazes de racionar como espécie e não só como indivíduo. Serão capazes de levar a vida à galáxia e continuar com esse sonho conquistador que os seres humanos trazem na sua genética.

Para que todos estes sonhos sejam possíveis, temos de ser capazes de nos governar a nós mesmos. Caso contrário, acabaremos por sucumbir porque não somos capazes de estar à altura da civilização que nós próprios fomos desenvolvendo, através de acções.

Este é o nosso dilema. Não nos entretenhamos só a remendar consequências. Pensemos nas causas de fundo, na civilização do desperdício, na civilização do “usar e deitar fora”, que mais não faz do que deitar fora o tempo da vida humana, desperdiçando-se em questões inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por milagre e nada vale mais do que a vida. E que o nosso dever biológico é, acima de tudo, respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie é o nosso nós.

Obrigado.

Fonte do texto, do La República.

Adenda: Os fragmentos vazios do vídeo constam também na tradução, uma vez que o texto integral está aqui.

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10 respostas a Pepe Mujica na ONU

  1. Rocha diz:

    Fala contra o capitalismo na ONU, pratica o capitalismo no Uruguai. É um artista latino-americano.

    Foi tupacamaro e agora é um social-democrata de barriga cheia. Cinismo.

    • Vasco diz:

      Ó Sr. Rocha você não conhece a realidade do Uruguay, nem o comportamento exemplar de Mujica como Presidente. Você junta a ignorância com a falta de conhecimentos…
      Você cai na vulgaridade de ignorar o conteúdo do discurso para lançar atoardas…

  2. Francisco d'Oliveira Raposo diz:

    Reblogged this on Coisas de vida, pedaços do mundo… and commented:
    Absolutamente imprescindível!

  3. NL diz:

    Ó Rocha, mas acredita que se o Jerónimo chegasse ao poder também não seria um «social-democrata de barriga cheia»?

    • Herberto diz:

      Podia até ser um «comunista de barriga vazia».

    • Rocha diz:

      O PCP é um partido revolucionário marxista-leninista, não é um saco de gatos, uma cambada de oportunistas que infelizmente prosperam na América Latina porque os partidos ditos comunistas não cumprem o seu papel de colocar a aliança operária-camponesa na vanguarda da luta de classes.

      Infelizmente os partidos comunistas cada vez mais degenarados de vários países da América Latina colocam a classe operária e o campesinato como moletas, como atrelados e como rebanho de ovelhas das camadas pequeno-burguesas, de carreiristas e politiqueiros oportunistas que tomam a dianteira destes movimentos de salada russa como é o caso da Frente Ampla.

      • NL diz:

        Mas quando é que o PCP com a sua política colaboracionista com a pequena e média burguesia (a “revolução democrática e nacional” do Cunhal ou a atual “democracia avançada”) colocou «a aliança operária-camponesa na vanguarda da luta de classes»? Repare que não digo isto como crítica, pois concordo com a leitura da realidade social que o PCP tem feito nos últimos 40 anos. Agora chamar-lhe «partido revolucionário marxista-leninista», tenha dó!

  4. karlo diz:

    a palavra convence…. o exemplo arrasta…
    poucos conseguem entender…

  5. Pingback: Jose Pepe Mujica, ONU 2013 – Presidente del Uruguay | Acidxfactory - LX Factory Organization

  6. Miguel diz:

    Este é um exemplo da discussão que deveria constituir o dia-a-dia de uma organização como as Nações Unidas, ainda para mais, esta exposição não podia ser mais simples e tocanto.

    Obrigado pela partilha!

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