Até já, Urbano.

Hoje, perdi um amigo que costumava estar sentado numa sala feita de livros da cabeça aos pés. Dali, levava-me para os lugares mais inoportunos. Não é que não gostasse ou não tivesse tempo. Mas era demasiado grande. Ele, a sala e a história. Porque aquela sala era, para mim, uma porta para a história. Era com aquele olhar meigo que atravessava comigo, carregado de palavras, o passado mas também o futuro. Era o homem que continuava a carregar gente clandestina no porta-bagagens, que voltava a abrir as portas da prisão, que continuava a defender o seu partido. O escritor que um dia esmurrou um PIDE. O Urbano era tão jovem que parecia impossível desaparecer algum dia. Não conseguia ter praticamente inimigos e, dentro de mim, desculpava-o por ele ser ainda jovem. E agora que partiu, fica a sala e uma cadeira vazia. Porque o Urbano está, neste momento, ocupado com coisas mais importantes.

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2 respostas a Até já, Urbano.

  1. De diz:

    Morreu um Homem Bom.
    Morreu um Homem raro

  2. samuelquedas diz:

    Muito bem!!!

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