De repente, os comentadores de vários matizes alinharam-se no plano presidencial de “salvação nacional”. Como se a crise não tivesse culpados, como se a crise não fosse uma máquina de guerra que tira direitos aos pobres e dá dividendos e rendimentos aos poderosos. Dizem-nos com um ar de quem sofre um ataque de gases que esta é a última oportunidade de preservar o regime. Como se estivessem a colocar neste barco que se afunda a liberdade e a democracia. Nada mais falso: o regime de que falam é a negação das promessas igualitárias do 25 de Abril. O que os preocupa é garantir o regime dos negócios que permitiu o desenvolvimento de um capitalismo nacional feito à sombra do Estado – Um regime duplamente desigual: desigual porque se trata de um capitalismo, mais desigual porque é um capitalismo que vive de expropriar o Estado dos recursos do contribuinte, para os dar aos grandes grupos privados. Aqui a corrupção não é um desvio criminal, mas a normalidade de um regime económico que tem como realizações simbólicas as swaps e as PPPs, em que quando há lucros, os privados e o capital financeiro recebem dividendos; e quando há prejuízos, o contribuinte é obrigado a pagar. Vivemos num regime em que são privatizados lucros e socializados prejuízos, para o bem estar dos do costume.
Ainda esta semana ficamos a saber que o banco criado à sombra do cavaquismo, o BPN, produziu uma colecção de moedas para assinalar o europeu de futebol que se realizou em Portugal. Não se venderam? Este governo do PSD e CDS encarregou-se de arranjar forma de as comprar com o dinheiro dos contribuintes. Foram quase 27 milhões de euros, o que é isso entre amigos e cavalheiros…
No livro “Os Donos de Portugal” recenseou-se a imensa promiscuidade entre decisores políticos e grandes grupos económicos. Este capitalismo de corrupção tem como capa a alternância dos partidos da governabilidade. O regime em Portugal chama-se bloco central dos interesses. Nele não estão envolvidos os militantes e os eleitores do Partido Socialista, mas alguns dos seus dirigentes aparecem alegremente em cargos de responsabilidade de empresas que negociaram chorudos negócios com o Estado. É por isso que também a direcção do PS está preocupada com este regime e participa nestas negociações à sombra de Cavaco Silva.
Quando os papagaios choram pelo regime em perigo e pretendem garantir-nos que só o salvando podemos manter a democracia e a liberdade é preciso fazer-lhes um enorme manguito e dizer-lhes: não há liberdade e democracia com um regime que promove a desigualdade, o desemprego e a miséria. Por nós estejam à vontade, enterrem esta coisa.
Em forma, Nuno.
Claro,conciso e directo,sem rodriguinhos nem intrigalhada.
‘…o regime de que falam é a negação das promessas igualitárias do 25 de Abril.’
Já que lhe ocorreu que o que está errado são as promessa igualitárias: não as do 25 de Abril, que eram as das ‘liberdades e garantias políticas’, mas as do PREC que inventaram a rota do irrealismo que é a mãe dos sofismas e oportunismos de todos os quadrantes que nos trouxeram à desgraça presente!