Ao longo do desenrolar desta crise política, que ontem teve mais um momento “alto” na comunicação de Cavaco, várias dinâmicas tornaram-se claríssimas:
– Este governo não irá chegar ao fim da legislatura, no máximo dura até Junho (o mais certo é cair bem mais cedo);
– Este governo está em implosão, é um cadáver adiado, o projecto histórico da direita portuguesa “Um governo, uma maioria e um presidente” desintegrou-se com estrondo e contornos de “Òpera bufa”. O PSD está em luta com o CDS e vice-versa, o Cavaco já não lhes dá cobertura, ontem até lhes deu uma “ganda navalhada”… tudo isto deixará marcas na direita. As próprias instituições Europeias e outras agências do IV Reich saem desautorizadas depois de ontem mesmo terem dado a sua bênção à solução de remodelação governamental, completamente esotérica, proposta por Passos-Portas;
– Neste contexto a implementação de uma série de medidas gravosas será, no mínimo, adiada. Exemplos disso são as criminosas tentativas de privatização de sectores estratégicos como os CTT, RTP e várias empresas de Transportes. Ou a proposta de castração/destruição/desarticulação do estado social com o corte de 4700 milhões de euros e correspondentes despedimentos em massa e cortes nas pensões. Ora tudo isso é muito mais difícil agora do que há duas semanas.
Não é por acaso que a reacção liberta guinchos histéricos à volta dos sucessivos episódios desta crise. O Renato fez muitíssimo bem ao alertar para um ponto central em todo este processo, ISTO É POSITIVO. Não só é positivo, como em certo sentido inevitável. Estes são dois pontos básicos que por vezes parecem ser esquecidos… Por isso mesmo convém reafirmar:
Governo à beira da morte! Viva a luta popular que o destruiu!, não esquecendo todo o percurso que nos conduziu até aqui, descrito em, PORTUGAL RADICAL.
Crise política, alguns pontos nos iis, mais explicitamente sobre a corrente “ópera bufa” e o que se tem dito a seu propósito.
Por um lado este projecto de governo “mais troikista que a troika” estava blindado institucionalmente, mas por outro lado o falhanço dos resultados economicó-financeiros e a resistência popular tornavam impossível prosseguir a sua missão… Esta é a contradição insanável que conduziu Cavaco, PSD/CDS e Troika ao actual labirinto…
Passos, o fanático neo-liberal nunca se iria render, Cavaco dificilmente iria por um fim limpo e claro a esta aventura. O fanatismo ideológico, o apego ao poder da corte de “boys” que rodeia este governo e a própria gravidade da crise social-económica não permitiu o regime regenerar-se minimizando os traumas. Portanto em vez de um fim limpo, rápido e que minimize as feridas, temos um governo que se vai aos guinchos, borrando-se todo, desesperado, num processo que deixará profundos traumas nos intervenientes. Temos o prazer de ver a desorientação total dos fariseus ao serviço do regime, num dia dizem assado, noutro frito e a seguir já é cozido… Estão à nora.Tudo isto é LINDO!
Tem riscos? Claro, mas camaradas, à medida que a crise se aprofunda (para lá de Portugal, para lá da Europa, até à China) os riscos só vão aumentar! Não é por acaso que a JP Morgan, o Wall Street Journal ou o Camelo Lourenço apelam explicitamente a uma solução ditatorial. Isto vai ser duríssimo e caótico? É ÓBVIO QUE SIM. Não vale a pena ter medo ou pessimismo, não serve de nada. A tempestade não se vai evitar ela já está cá, vamos naufragar? É possível… mas fugir não serve de nada, o melhor que há a fazer é ir de proa contra as ondas e abraçar a tempestade!
Quando falam em governos à Monti ou de “Salvação Nacional” lembro que na Grécia, após Papademos, assistimos ao crescimento meteórico da Syriza, na Itália sob os escombros de Monti surgiu Grillo e o Movimento 5 estrelas. Em Portugal a Esquerda anti-troika tem tudo para sob os escombros do próximo “governo de salvação nacional” se constituir como pólo alternativo com hipóteses reais de tomada do poder. Tal como, de resto, aconteceu na América Latina em vários países após o colapso das intervenções do FMI (Venezuela, Equador, Argentina, Bolívia…). Para que isso aconteça a primeira condição é simples, é que as várias componentes da Esquerda anti-troika tenham vontade real disso. Este é um momento em que “quem tiver unhas toca guitarra”.
Em síntese, como de forma bastante expressiva dizem os fantásticos Hives…
Yeah, I was right all along
‘Cause I have done it before and I can do it some more
I got my eye on the score
I’m gonna cut to the core
It’s too late it’s too soon or is it?
Tick, tick, tick, tick, tick, tick, tick, boom
Yeah, yeah, yeah, I was right, you were wrong
Yeah, yeah, yeah, going, going you’re gone
I saw your hesitating, waiting too much
‘till it slipped through your hands
and then you stagger to your feet and out the door
‘cause there’s not second chance
That’s right!
And you come crying to me – but it’s too late
the man you try hard to be – but it’s too late
get your head out the sand – but it’s too late
it’s too late, too late, too late, too late
Oh yeah, but it’s too late
Yeah, but it’s too late
get your head out the sand, it’s too late
It’s too late, too late
Or is it?
Tick, tick, tick, tick, tick, tick, tick, boom
Dedicado a tod@s @s fariseus ao serviço do regime.
Uma – apenas uma – das primeiras condições para isso (” Em Portugal a Esquerda anti-troika tem tudo para sob os escombros do próximo “governo de salvação nacional” se constituir como pólo alternativo com hipóteses reais de tomada do poder”) é evitar a todo o custo «deitar sal em feridas antigas» ou abrir questiúnculas sobre quem é mais «marxista» ou «mais à esqurda»….
Parece simples mas não é.
Excelente texto! Resta saber o que fará essa esquerda uma vez no poder. Pela minha parte estou disposto a dar-lhe o benefício da dúvida.
Se estás a dizer que estamos a viver no IV Reich, então porque é que dizes que o governo é de direita? Não estás a ser simpático demais para com o governo?
Eles apelam a uma ditadura, são tão espertos/manhosos, é que já estamos a viver numa, mas a maioria das pessoas julga que não.