A coreografia é velha, mas nem por isso sai de moda. Perante seja que problema for, os Governos em funções atiram farpas ao Executivo anterior, depois de, em todas as campanha eleitorais, jurarem a pés juntos que nunca, jamais, em tempo algum, alegarão «a pesada herança» para «iludir responsabilidades». Quanto aos membros do Executivo corrido entretanto, volta e meia, vêm à cena defender-se, com revelações bombásticas, em que não se percebe nunca muito bem onde termina a preparação para o tacho futuro e o varrer da testada pelo tacho passado. A comunicação social transforma o assunto numa novela, o público deprime-se. É uma santa divisão social do trabalho.
Desta vez, a coreografia decorre tendo como pares do pé de dança o actual ministro das Finanças, Vítor Gaspar, e o ministro do Governo anterior, Teixeira dos Santos. O pretexto, que podia ser outro qualquer e ia dar tudo ao mesmo, desta feita são os famigerados swaps, contratos ruinosos de seguro de crédito celebrados por empresas públicas durante o anterior Governo. Segundo Vítor Gaspar, Teixeira dos Santos não o teria avisado de que tais contratos existiam, aquando da passagem de pastas. Desmentiu-o o segundo, referindo reunião concreta em que tal informação foi prestada pelo seu secretário de Estado, e indicando testemunhas. Logo veio Gaspar desdizer-se, referindo que foi informado, sim, mas insuficientemente.
Não perderei tempo levantando as demonstrações de incompetência que este caso revelaria, se porventura tudo isto não tivesse sido feito com dolo. Por um lado, as declarações de Teixeira dos Santos, revelando que não sabia, pessoalmente, de que assunto se tratava, precisando auxílio de um secretário de Estado, vêm mostrar com que atenção seguiria o processo. Por outro, as oscilações na versão de Gaspar, associadas à inexistente acção, durante dois anos, para renegociar os swaps de que desconfiava mal entrou para o Governo, impõe a questão de onde tinha a cabeça e com que empenhamento quis cuidar as finanças do Estado. Porque a questão não é essa: a questão está em saber e discutir o fundo do assunto, a saber, que impunemente se celebraram contratos ruinosos em empresas públicas, se desbarataram recursos e comprometeram serviços públicos, e nem por isso se prevê qualquer espécie de intercessão que mitigue ou resolva o problema.
Os contratos swap, que não passam de uma forma sofisticada de jogar à roleta russa no mercado de capitais, são responsáveis por prejuízos da ordem dos três mil milhões de euros. Incidem sobretudo em empresas como o Metro do Porto, o Metro de Lisboa, e demais serviços públicos cuja gestão esteve e está a cargo, há anos a fio, de comissários políticos dos partidos da burguesia, que vêm depois, com desplante, falar do «despesismo do Estado», feito por eles, e apontar como «única solução» a venda a pataco desses activos. Fazem o mal e a caramunha, endividam o Estado, empobrecem o povo, e privam-no, por acção própria e dolosa, de direitos fundamentais. Se esta gente tivesse vergonha, envergonhava-se!
E é nisto que está a dívida: nos swaps, nas PPPs, nos BPNs, nos avales a grandes empresas, na cedência aos juros especulativos, na subjugação à divisão internacional do trabalho imposta pela integração capitalista na União Europeia, em suma, na política de classe dos Governos do PS, do PSD, e do CDS. É isto que esta gente não quer discutir, é disto que pretende desviar as atenções discutindo detalhes, engendrando folhetins, inventando fait-divers. A valsa da burguesia vai-se dançando a compasso, até que o povo, organizado, lhes venha a acertar o passo.
Epá acabei de fazer uma descoberta fantástica! Afinal eu também gosto de usar os x nas palavras em plural e nem me tinha dado conta…
É o PX, é os xuxialistas, é o xuxialismo democrático (muitas vezes em companhia da flexiprecariedade, da extabilidade e creximento, da conxulidaxão orxamental, do defixe)… quer dizer pelo menos para esta espécie de gente os xis ficam-lhes a matar, é como uma espécie de alvo pintado na testa.
Um excelente, um muito excelente post.
E a valsa da burguesia continua:
Maria Luís Albuquerque, actual secretaria de estado do tesouro (adivinhem quem é o ministro) foi quem contratou os Swap para a REFER!
Acresce ainda este mistério: «da lista de Swap’s da REFER desapareceu durante 2012, um dos produtos mais exóticos da cobertura de risco» que se vencia em 2026 e que entre outros dois nomes se designava de Bermuda. Um desaparecimento oportuno!
http://foicebook.blogspot.pt/2013/05/noticias-breves.html
No português do Brasil, bermuda equivale a uns calções. E já não vamos muito mal pois com esta corja capitalista que nos governa bem podiam os contratos swap levar o nome de contratos da tanga.
No final de contas os criminosos que roubam o Estado por dentro do próprio Estado acabam sempre por sair de lá com altos tachos e condecorações como prémio pelos serviços ao capital e finança portuguesa e estrangeira.
Muito bem.
Na mouche.