Até sempre, Guilherme de Melo!

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Hoje perdi um amigo. Mas o legado do Guilherme, verdadeiro precursor do movimento lgbt em Portugal é imenso, e sempre lhe tive referência e grande admiração. O seu trabalho como jornalista no Diário de Notícias – assim de repente vem-me à memória o extraordinário documento publicado em livro sobre a prostituição masculina e trans em Lisboa no final dos anos 70, um documento histórico absolutamente precioso. O seu contributo imenso para a nossa memória colectiva, essa história da homossexualidade no Portugal do Século XX que tem sido arrancada a ferros do apagamento a que foi sujeita – a sua própria vida, a passagem pela incorporação militar em plena guerra colonial, é parte dessa história e documento incontornável para percebermos o ontem e o hoje. A naturalidade, a simplicidade de quem nunca se escondeu quando ainda era vital, de quem sempre se assumiu quando era ainda muito perigoso fazê-lo, de uma das primeiras vozes em Portugal a quebrar o tabu sobre relações entre pessoas do mesmo sexo e a enfrentar as respectivas consequências. Guilherme, tu que dizias que a tua frontalidade te valeu não teres sido discriminado por ninguém (mas não o dizias com o sentido desculpabilizador que ainda hoje tantas vezes se escuta) que bom teres vivido ainda no tempo em que nasceu o movimento lgbt, assistires a essa mudança, e ainda assim não arrumaste as luvas, não deixaste de contribuir, não te abstiveste de exprimir exactamente essa alegria. Não sou uma pessoa religiosa, apenas imaginativa, fora o domínio do sonho e do desejo contento-me com a vida e o mundo que me são palpáveis e com tentar dar o meu contributo limitado para tornar melhor o ser humano, tal como ele fazia. No entanto espero que hoje o Guilherme esteja algures com o seu companheiro de sempre, o seu querido bombeiro. Saudades de todas as vezes em que nos encontrámos. Saudade há sempre, até em vida quando ela quotidianamente nos rende a ritmos que tendem a afastar-nos uns dos outros. Por outro lado, essa distância não mina em nada a amizade ou o respeito mútuo de muitos anos. Não é uma verdadeira distância. Nem esta. Vou recusar a tristeza que me invade com a notícia da tua morte, guardo antes o teu percurso, o teu sorriso de quem conheceu a felicidade e a sabedoria. Até sempre, Guilherme.

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Uma resposta a Até sempre, Guilherme de Melo!

  1. The Studio diz:

    Aos seus filhos, familiares e amigos as minhas sentidas condolências.

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