Questões à volta de Revoluções e movimentos de massas “realmente existentes”

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Na resposta “aberta” do Mário aos comentários que fiz ao seu texto a pretexto dos protestos Brasileiros, várias questões são levantadas sobre as quais vale a pena reflectir.

O Mário foca a sua atenção nas falhas exibidas pelos actuais movimentos de protesto e com base nisso alerta para os graves perigos que estes comportam, inclusivé o de uma deriva fascista. São dados exemplos de outros movimentos que degeneraram, como os protestos Iranianos do final dos anos 70, que resultaram na instauração de uma República Islâmica, ou a história do socialismo do século XX, nomeadamente do “socialismo real”, que segundo o Mário: se trata de uma das mais opressivas aberrações políticas do séc. XX, da qual praticamente nada de aproveitável poderá ser retido. Ou seja, o Mário dedica-se a analisar as falhas e perigos inerentes a qualquer movimento emancipatório “realmente existente” para em seguida vetá-lo.

O que eu argumento é que se formos aplicar essa lógica, então nenhum movimento emancipatório real deverá ser apoiado, uma vez que ele terá sempre falhas, como tiveram os movimentos que desembocaram na Revolução Inglesa, Francesa, Russa ou qualquer outra.  Ora, se no concreto, nenhum movimento deve ser apoiado porque existe o risco potencial de este degenerar num regime tenebroso, então o que é que nos resta? Assistir de bancada ao avanço da reacção triunfante… Portanto, esta lógica é a garantia mais segura de que o mundo em que vivemos irá degenerar. Nada é perfeito e isento de riscos, o debate e a crítica são elementos fundamentais para se evitarem erros cometidos no passado (na certeza que novos erros serão cometidos…e alguns antigos serão repetidos…). Mas isso não pode ser desculpa para vetar e desqualificar à partida os movimentos populares emancipatórios “realmente existentes”.

Vamos então por partes.

Início de uma resposta ou prelúdio para a câmara de Gás?

Mil Robespierres, ou como o armário precisa de esqueletos novos

Das derrotas e dos movimentos de massas reaccionários. Menos medo e mais audácia

Notas finais

Início de uma resposta ou prelúdio para a câmara de Gás?

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Dizer, como o Mário diz aqui: um tipo particular de manifestações que tem ocorrido na conjuntura actual e nas quais julgo detectar o sentimento de desorientação (politicamente estéril ou inconsequente?) daquilo a que chamamos “classe média” é muito diferente do que foi dito anteriormente, Aqueles que dizem que os “indignados” facilmente tombariam nos braços do primeiro caudilho fascista que lhes aparecesse não estão, pois, desprovidos de razão.

Uma coisa é fazer uma crítica à falta de consistência ideológica dos protestos pós-crise 2008, Occupy, Indigandos, Primavera Árabe, Turquia, 12 Março/QSLT. Outra coisa muito diferente e perigosa, reafirmo, é dizer que esses movimentos são uma espécie de ante-câmara do fascismo, porque se o são, então quais as consequências que daí devemos tirar para o activismo no dia-à-dia? A conclusão consequente dessa linha de raciocínio é de que esses movimentos devem ser combatidos e denunciados pela Esquerda. Ora isso parece-me um gigantesco tiro nos pés.

Longe de serem a ante-câmara do fascismo, estes movimentos têm a possibilidade de ser a ante-câmara de movimentos populares portadores de um projecto emancipatório mais robusto. E é essa a perspectiva que deve moldar a nossa análise. Não como agentes à parte do real que dissecam as falhas do movimento concreto, mas como participantes que se movem no terreno e procuram influenciar positivamente o conteúdo desses movimentos. E para se influenciar positivamente esses movimentos o primeiro requisito é: estar envolvido neles e não acusá-los de serem um prelúdio de regimes que enviam minorias e dissidentes para câmaras de gás…

Como o Mário diz, e bem, estes novos movimentos surgem no contexto da desintegração do “velho sujeito histórico” e da derrota histórica do projecto socialista “realmente existente”. Nesse sentido, a resistência popular ao avanço da distopia neo-liberal, perdidos muitas das anteriores referências, necessariamente passará por episódios em que a inconsequência será por de mais evidente (por exemplo, nos motins ingleses de 2011). Mais, não está garantido que estes movimentos irão ser a antecâmara de um “novo sujeito histórico” que guiará as massas oprimidas rumo à vitória, podemos bem estar a assistir à agonia de 200 anos de “modernidade”. Ora, exactamente porque a luta está longe de estar decidida é que me parece que espezinhar à nascença alguns dos “embriões” do “novo sujeito histórico” é um erro perigoso…

Mil Robespierres, ou como o armário precisa de esqueletos novos

Estes movimentos de massas ao estilo “indignados”, quer seja em Espanha, no Brasil, ou em Portugal têm grandes debilidades, quer do ponto de vista da proposta política, quer mesmo da sua orgânica. Mas, que movimentos no passado não o tiveram essas ou outras debilidades? A superação dessas debilidades requer, entre outras coisas, debates como este. O problema é quando a análise das falhas dos movimentos serve como justificação para “vetá-los”. Se assim fosse, todo e qualquer movimento emancipatório do passado poderia ter sido “vetado” à partida. Se fossemos proceder assim a Esquerda nunca deveria ter participado na Revolução Francesa ou na Revolução Russa, os movimentos de libertação africanos e asiáticos nunca deveriam ter ocorrido e por aí fora… E é mesmo isso que o Mário parece defender quando diz: Incorporar tudo o que correu mal, demasiado mal, na história do socialismo do séc. XX, e fazer o luto definitivo pelo “socialismo real”, metendo de uma vez por todas na cabeça que se trata de uma das mais opressivas aberrações políticas do séc. XX, da qual praticamente nada de aproveitável poderá ser retido.

Este tipo de lógica é similar ao que os intelectuais ao serviço da reacção utilizam para descredibilizar todo e qualquer movimento emancipatório, da Revolta de Espártaco até aos protestos anti-austeridade na Grécia. Este tipo de raciocínio tem a meu ver duas grandes falhas: Ignora os riscos da inacção e a necessidade de dar respostas aos problemas confrontados, no momento, pelos movimentos emancipatórios. É que o “socialismo real” (ou qualquer outro projecto emancipatório que alcança o poder) não foi algo desenhado a régua esquadro por um qualquer comité central ou ditador bonapartista. Foi um sistema social-político e económico, dinâmico, que se construí em resposta a uma sucessão de graves crises. Desde a invasão da jovem URSS por 16 potências que queriam abafar a emergente revolução, ao cerco a que esse país esteve sujeito nos anos entre guerras, até à invasão Nazi na segunda guerra mundial. Nesse sentido, o balanço que faço dessa “experiência histórica” é bem diferente do Mário. Para mim o fim da 1ª Guerra Mundial (resultado da Revolução Russa e subsequente Revolução Alemã), a derrota do Nazismo na segunda guerra mundial, o apoio aos movimentos de libertação nas colónias submetidas ao imperialismo (explícito e implícito), a existência de uma alternativa real (com todas as suas limitações e problemas) ao modelo imperialistó-capitalista, entre outras coisas, faz com que o meu balanço do “socialismo real” seja bem diferente do do Mário. Basta pensar naquilo que foram as consequências da derrota do “socialismo real” para toda a Esquerda e de como isso afectou a relação de forças entre classes…

Com todos os seus problemas e aberrações, não tenho dúvidas de que se o mundo em que vivemos não é ainda mais “aberrante” é porque houve uma Revolução Russa que triunfou e a partir dela se construí uma União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O que seria da História, da nossa vida, se tal não tivesse acontecido? E o que seria da História se a Revolução Francesa tivesse sido afogada em sangue como pretendia a reacção aristocrática, tão claramente enunciada na declaração de Brunswik? Simplificando, a Revolução Inglesa degenerou num Cromwell (após a supressão dos Levellers), a Francesa num Napoleão (na sequência do Thermidor) e a Russa num Estaline (depois do silenciamento da “ala esquerda”). Sim, é verdade, mas seria melhor se ainda vivêssemos sob monarquias absolutas estilo Arábia Saudita? Ou se a 1ª Guerra tivesse continuado por mais uns anos e os regimes elitistó-liberais  da França-Inglaterra, ou semi-feudais das potências centrais, com os seus respectivos impérios, não tivessem sido postos em causa?

Aliás a questão nem é bem essa. Pois esses sistemas tal como existiam eram insustentáveis, a questão é mais entre a saída revolucionário progressista, que com todas as suas limitações e “aberrações”, triunfou na Inglaterra de 1640, na França de 1790 ou na Rússia de 1917. Ou um “estado novo” que aprofunda as características reaccionárias dos regimes pré-existentes, um pouco como aconteceu na Espanha Franquista pós-derrota da revolução de 1936 ou na Alemanha Nazi pós-derrota das esperanças revolucionárias de 1918-23- felizmente muitos dos traços mais tenebrosos dessa “nova Espanha” foram atenuados devido à vitória da “aberrante” URSS sobre o Nazismo.

Como já aqui tinha dito, Se o fim do absolutismo exigiu coisas como a Revolução Francesa ou Inglesa então “So be it”… antes mil Robspierres que a manutenção do absolutismo feudal. Ou aqui, E por mais que alguns se escandalizem, para que em 45 as perspectivas fossem bem melhores que em 14 foram necessárias coisas como a Revolução Bolchevique ou a “Ordem 227“.

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Não se trata aqui de glorificar o Protectorado, o primeiro Império Napoleónico ou a União Soviética.  Mas de enquadrá-los no processo histórico. Parece-me fundamental perceber que o nível de ruptura com a ordem pré-existente necessário para resolver certas contradições politicó-social-económicas, gera confrontos de tal forma traumáticos, que a resolução dessas contradições irá gerar a curto-médio prazo regimes/organizações sociais que dificilmente não terão alguns traços “autoritários”. A questão é então se essas contradições se resolvem de forma a atingir um “estado novo” ultra reaccionário, ou uma “República” com traços autoritários, mas cuja emergência derruba/atenua muitas das anteriores formas de exploração e opressão, abrindo portas a todo um novo conjunto de hipóteses de libertação e progresso.

Esta recente entrevista de um ex-dissidente da Europa de Leste fornece importantes pistas. Mais uma vez não se trata de glorificar o “socialismo real”, mas de à medida que o tempo passa e a poeira assenta, tentar fazer um balanço menos poluído pela nostalgia saudosista ou pela propaganda primária anti-soviética.

Admito que este é um tema extremamente “minado” e as parcas palavras que acima disse não são mais do que um breve epílogo  ao que seria uma longa discussão acerca do tópico. Mas tal como o Mário diz, parece-me que para a Esquerda ser portadora de um projecto de poder realmente alternativo à distopia neo-liberal, então é preciso olhar bem para os “esqueletos que tem no armário”. Há quem os tente esconder, quem finja que eles não existem… Em certo sentido, o que acima disse, é que não só esses esqueletos são bem reais, como provavelmente será inevitável termos de acrescentar uns quantos mais ao armário, se as actuais contradições no sistema-mundo são para ser ultrapassadas de forma progressista/emancipatória.

Das derrotas e dos movimentos de massas reaccionários. Menos medo e mais audácia

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Se, daqui a uns tempos, a estrutura do poder e o sistema das relações de força no Brasil permanecerem mais ou menos intactos, quero ver o que o Francisco terá para dizer.

Bem, a maior parte dos movimentos emancipatórios e revoluções que conheço foram derrotadas pela reacção ou status quo. O que é que aconteceu ao movimento popular encabeçado pelos Gracos? E à revolta de Espartáco? E à Florença de Savonarola? E à rebelião de Munster? E à comuna de Paris? E à revolução Espanhola? and so on… O que aconteceu à estrutura de poder na sequência destas e de outras revoltas que foram derrotadas? Pelo facto de terem sido derrotados pela reacção esses movimentos merecem ser espezinhados? Pelo facto de não terem atingido todos os seus objectivos significa que foram esforços, acima de tudo, estéreis e inconsequentes? Quem na altura defendeu esses movimentos deve ser ridicularizado?

Uma das razões pelas quais a minha avaliação do “socialismo real” (e desconfio do “Protectorado” de Cromwell ou do “Império” de Napoleão) ser diferente da do Mário, é porque estou bem consciente de quão raras e preciosas são na História as vitórias de revoluções resultantes de movimentos de massas portadores de um projecto emancipatório, que efectivamente põe em causa a “estrutura do poder”.

Aliás um (entre vários) problemas da Esquerda é não ser capaz de reconhecer, nem tão pouco celebrar as suas vitórias. Diz-se (não sei se é verdade) que Lenine dançou na neve quando o governo dos Soviets passou os 100 dias pois tinha ultrapassado a duração da Comuna de Paris… Parece-me que a Esquerda, neste momento, precisa mais desses espírito do que o de “velho do restelo” que o Mário parece querer encarnar… Precisamos de mais audácia e menos medo.

Quanto aos protestos Brasileiros eles já conseguiram limitar o preço dos passes e colocar uma série de questões em cima da mesa. No caso Turco os protestos, mesmo que recuem, conseguiram colocar em questão o projecto para o parque e a instauração de um regime presidencialista. Na Grécia, apesar de um certo radicalismo (contrabalançado por um sectarismo destrutivo e uma reacção muito activa), aparentemente o movimento não travou a marcha austeritária, mas as permanentes queixas da Troika face aos atrasos Gregos na instauração de uma série de medidas (como as privatizações) dá indicação de que os protestos não foram em vão.

Mas mais do que o balanço actual do deve e haver das conquistas obtidas por estes movimentos, aquilo que é relevante é que estes movimentos são sinais do tal “novo sujeito histórico” que se levanta tacteando e cambaleando à procura de caminhos alternativos… Sendo que o tal “novo sujeito histórico”, para lá destes “novos” movimentos deverá necessariamente incorporar alguma da experiência, tradições e memória dos movimentos emancipatórios que desde o alvor da civilização pontuaram a História.

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Quanto ao alerta de que existem movimentos de massas reaccionários, não sei bem a propósito de quê o Mário se lembrou de alertar para o óbvio… A questão é que há excepção de casos que eu próprio mencionei (Líbia, Síria) os protestos que têm varrido a bacia do mediterrâneo, o Occupy Wall Street e agora o Brasil não são reaccionários, mesmo que possam ter alguns elementos reaccionários… É paralisante, contra-producente e revelador de um total desconhecimento da sociedade actual e da história, estar constantemente a apelar ao medo e a agitar o papão do fascismo sempre que num protesto aparece alguém a cantar o hino, com uma bandeira nacional ou que tem uma aparência um pouco diferente… Mais, acaba por desvalorizar o alerta quando verdadeiros movimentos de massa reaccionários surgem.

Para dar um exemplo no campo eleitoral e no plano Europeu. Houve muita gente que acusou o movimento 5 Estrelas do Beppe Grillo de ser pré-fascista, acho isso um absurdo, pode até cair na categoria de “estéril-inconsequente”, mas não é pré-fascista. Já no Reino Unido o UKIP, esse sim é o exemplo de um movimento pré-fascista! Aí sim temos aquilo que pode ser o germe de um movimento de massas fascizante. Convém saber distinguir o “Germano do género humano”…

Notas finais

Em síntese, aquilo que tenho vindo a defender neste debate/conversa é que:

– Os novos movimentos transportam em si o potencial de serem uma parte importante da reconstrução de movimentos de massas portadores de um projecto emancipatório robusto. É assim que devem ser encarados e como tal apoiados. Sendo que é necessária uma análise caso a caso, podem existir situações em que certos movimentos de início aparentemente progressistas degenerem em algo tenebroso.

– Movimentos de massas emancipatórios sempre tiverem contradições e foram acusados de inconsequentes e por aí fora. Nunca existiu, não existem, nem existirão nunca, movimentos de massas emancipatórios perfeitos e puros,  menos ainda se conseguirem atingir o poder. Se estivermos à espera da perfeição para apoiar um movimento é melhor puxar uma cadeira e ficar sentado à espera até à eternidade.

– Debates e críticas em torno destes novos movimentos são absolutamente necessários. Mas essas críticas não devem ser o pretexto para a inacção e muito menos para agitar espantalhos fascistas onde eles não existem. Mais do que o medo paralisante o que a Esquerda necessita agora é de audácia.

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– O projecto emancipatório para o século XXI ainda está em construção, serão necessários muitos movimentos e protestos “estéreis e inconsequentes”, muitas derrotas até se conseguir uma vitória. A mais poderosa revolução do século XX também ela foi precedida de protestos “estéreis e inconsequentes”, movimentos que alguns à altura poderão ter caracterizado como reaccionários, mas que foram parte integrante do processo histórico que desembocou na Revolução Russa.

– A luta contra a opressão e exploração é tão antiga como a própria exploração. Os movimentos emancipatórios do século XXI devem se assumir como herdeiros desses projectos e movimentos, sem no entanto mimetizar nenhum deles. Não vejo vantagens em fixar-nos num certo regime do passado, fruto de um dado contexto histórico, e elevá-lo às alturas como exemplo a seguir. Também não me parece fazer sentido fazer coro com a reacção e renegar em absoluto aquilo que foi o resultado da mais importante e transformadora revolução do século XX. O balanço objectivo do significado histórico do “socialismo real” ainda está em grande parte por fazer, talvez não tenha sido o “sol da terra”, mas não foi de certeza o “império do mal”.

– Em dados momentos históricos, certas contradições só podem ser ultrapassadas de forma progressista através do triunfo de projectos emancipatórios utópicos que ponham em causa vários elementos da estrutura política-social e económica vigente. Projectos esses que não estão definidos à partida, mas vão tomando forma ao longo do processo de luta. O triunfo de tais movimentos abre as portas a novas etapas do processo histórico, alarga o campo do possível, destrói formas de exploração e opressão milenares. Acontece que muito dificilmente o programa utópico, tal como é sonhado no auge da luta, é atingido. Mais, o triunfo sobre a reacção só é possível com níveis de confronto e violência muito elevados. Quando, após a derrota da reacção e dos perigos mais imediatos, a poeira assenta e o novo poder se estabiliza, parece-me incontornável que este irá tomar formas que não correspondem exactamente àquilo que foi imaginado nos momentos mais frenéticos e luminosos do processo. Cabe à Esquerda consequente tentar evitar os erros do passado que é possível serem evitados, sendo que novos erros serão cometidos e que certos erros são quase incontornáveis… A alternativa a isto é abdicar da possibilidade de vitória face à reacção.

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Resta-me dizer ao Mário que se em algum momento deste texto eu tenha utilizado alguma expressão que possa ser entendida como insulto pessoal, tal não era minha intenção. Creio que o facto de não nos conhecermos pessoalmente leva a que por vezes, de parte a parte, sejam feitas inferências quanto ao pensamento do outro que não são correctas. De qualquer das formas creio que este diálogo é uma boa oportunidade, não só para confrontarmos opiniões, como para expormos algumas ideias acerca dos interessantes tempos em que vivemos.

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5 respostas a Questões à volta de Revoluções e movimentos de massas “realmente existentes”

  1. ftw diz:

    muito bom

  2. Mário Machaqueiro diz:

    Caro Francisco,
    Antes de mais, um agradecimento sincero por este debate, que tanta falta nos faz. E é claro que nada vejo de ofensivo nas suas observações. Como o Francisco perceberá quando me conhecer melhor, o que me ofende é a estupidez, nas suas diversas (infelizmente muitas) formas, e a difamação. Não me sinto, porém, minimamente ofendido por uma discussão inteligente, aberta e argumentada com consistência.
    Como imagina, uma resposta a este seu texto obrigar-me-ia a uma dissertação. Vou tentar responder aos poucos. Para já, deixo apenas duas notas. A primeira para dizer que não entendo que a colocação de problemas, dúvidas, dificuldades, tenha de levar necessariamente à inacção ou ao sentimento de impotência. Ser “velho do Restelo”, coisa que provavelmente sou (pelo menos a caminho de ser velho), não significa fazer a apologia do imobilismo. Não consigo pensar nesses termos binários. Reconheço, contudo, que não sou um fanático da acção e que não consigo agir politicamente, o que já fiz em vários momentos da minha vida, sem exercitar a dúvida metódica, “vício” que resulta seguramente da minha formação filosófica. Sou, em suma, um homem sem ilusões e sem crenças. E poderia citar como lema este aforismo de Almada Negreiros: «Não sou optimista nem pessimista. Entre mim e a vida não há nenhum mal-entendido.»
    A segunda nota é para dizer, matizando um pouco o que escrevi, que o meu juízo sobre o legado da União Soviética é mais ambivalente do que poderá parecer à primeira vista. Concordo que o colapso da União Soviética, indepentemente do que possamos pensar sobre o conteúdo social e político do seu sistema, constituiu uma tragédia, não só para a esquerda mundial, mas, sobretudo, para a causa da emancipação das classes trabalhadoras. O que a URSS representava forçou as oligarquias burguesas do mundo “ocidental” a um compromisso entre o capital e o trabalho que foi unilateralmente rompido, em grande parte (mas não só) devido à queda de um sistema cuja irradiação, no plano simbólico, era temida. Digamos que essa queda deixou as mãos livres aos detentores do poder económico-financeiro para impor uma agenda de regressão social à escala mundial. Por isso nunca me regozijei com o fim da URSS, mesmo não tendo quaisquer ilusões (lá está) sobre a natureza profunda desse regime. Mas calculava que nada de bom viria com esse virar de página. E hoje está à vista.
    Um abraço, com a promessa de que este diálogo irá prosseguir

  3. De diz:

    Ainda não li todo este artigo com a atenção que o tema e os escritos do Francisco me merecem.
    Há no entanto algo que tenho que parabenizar desde já o Francisco.Por ter colocado, em dimensões mais consentâneas com a realidade, o legado que os processos revolucionários deixaram ao longo da História.
    Refiro-me concretamente ao capítulo “Mil Robespierres, ou como o armário precisa de esqueletos novos”.A forma dialéctica, a postura atenta e honesta,a recusa de leituras apressadas e suspeitas, o negar um qualquer “luto” infantil e redutor, o reivindicar como património da humanidade todos os processos emancipatórios dos povos sem se refugiar em pruridos inconsequentes e superficiais,o recusar embarcar no coro dos fazedores apressados dos acontecimentos que não têm em conta os processos históricos concretos,o saber ler a evolução dos acontecimentos com a humildade mas também com a sabedoria de quem toma nas mãos o que de melhor geraram as gerações anteriores,o saber distinguir o essencial do acessório, tudo isto me apraz registar e sublinhar .
    O fecho da história é algo que faz parte dos compêndios dos que querem que a Historia “páre” porque estão muito bem assim.Poderia dizer muito mais aqui, mas acho que o texto do Francisco levanta muitas e pertinazes questões. E fá-lo também numa posição de respeito pelos milhões e milhões de pessoas que ao longo da História lutaram genuinamente e com toda a boa vontade para que a História se escrevesse duma forma diferente, em prol dum outro mundo melhor e mais humano.Porque também, se mais não fora,tal respeito é devido aos que souberam fazer e sacrificaram tudo,inclusive as suas vidas, não se limitando à inacção como tão bem diz Francisco.Souberam lutar e souberam estar presentes.
    Porque também se aprende com os erros e os erros são parte do processo de crescimento e maturação.Porque a história não é um livro com as páginas em branco em que os recém-chegados, frustrados pelo facto do carrossel ter começado há muito, reivindicam a pureza e a virgindade de processos justos e sem mácula.O debate sereno e sem reservas é o que nos exige a nossa condição de pessoas e de pessoas que querem mudar o mundo para melhor.
    Os balanços não estão fechados. Pelo contrário o saber encontrar para cada acontecimento a dimensão real do seu valor, da sua importância,das suas causas e consequências é o que os nossos antepassados exigem de nós, mais,que merecem de nós.
    Leituras maniqueístas e inquinadas estamos nós já fartos.São todos os dias servidas num qualquer órgão de informação perto de qualquer de nós.

  4. Manuel diz:

    Xiça, tantos pruridos para dançar com a carochinha. Todos acham que foi bom que ela dançasse, agora a carochina (ou as carochinas) em si era tenebrosa, mal cheirosa, gorda e feia.. só foi util no plano simbólico.

    Ui ui… que gente chique….

  5. Pingback: Cavaco, Troika e PSD/CDS perdidos no labirinto… Das contradições insanáveis e de como a Esquerda deve celebrar este momento | cinco dias

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